quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Adrenalina na veia

“G.I. Joe: A Origem de Cobra” é um daqueles filmes que não dá nem tempo de o espectador respirar. Recheado de cenas de ação empolgantes e efeitos especiais espetaculares, é adrenalina do começo ao fim. E como quase todos os filmes do gênero, tem um roteiro bastante irregular, que, se por um lado procura evitar maniqueísmos ao desenvolver as motivações de cada personagem, por outro, cai em suas próprias armadilhas. De qualquer forma, traz personagens tão carismáticos quanto os que os inspiraram e marcaram a infância de quem teve entre 6 e 12 anos na década de 1990.

Baseado nos bonecos G.I. Joe, da Hasbro (a mesma empresa responsável pelos Transformers), a trama do filme é bem simples. O magnata da indústria bélica James McCullen, vivido por Christopher Eccleston, desenvolve ogivas à base de nano-organismos que podem corroer o aço em segundos, o que desperta o interesse de uma organização terrorista. Os G.I. Joe precisam, então, impedir que as armas sejam usadas pelos criminosos.

Dirigido por Stephen Sommers, o mesmo do razoável “A Múmia”, mas também do péssimo "Van Helsing", o filme explora tramas paralelas bem interessantes, como a que envolve os ninjas Storm Shadow, de um lado, e Snake Eyes, do outro. Porém erra na relação entre Duke (Channing Tatum) e a Baronesa, interpretada pela musa Sienna Miller, que começa bem, mas se complica e por isso não deslancha. A reviravolta nos últimos minutos da projeção acaba sendo uma solução bem óbvia para o conflito da vilã sedutora vivida por Miller e, ao revelar a origem do Doutor, força uma barra desnecessária.

Ainda assim, são os vilões que roubam a cena neste filme, já que os mocinhos, mesmo sendo de nacionalidades diferentes, são os típicos americanos chatos e patriotas. Mas não é só pela beleza estonteante de Sienna Miller ou pela chatice de Zartan, o mestre dos disfarces, e seu assobio insuportável, que os bandidos chamam a atenção. Uma feliz opção dos roteiristas é revelar, logo nos primeiros minutos, que McCullen é o todo-poderoso por trás da organização terrorista, ao forjar o roubo das ogivas que ele mesmo havia fabricado e fornecido para a OTAN. E, como parte de seu plano para colocar as nações mais poderosas a seus pés, McCullen resolve lançar umas das ogivas na Torre Eiffel, para demonstrar o poder da nova arma, e também para vingar seus antepassados. A sequência é uma das melhores do filme, mas perde um pouco do impacto por ter sido tão repetida nos trailers do longa. Com tanta ação, efeitos especiais e rostinhos bonitos, “G.I. Joe” tinha tudo para ser mais um “Transformers”, mas, entre mortos e feridos, supera expectativas e fica (um pouco) acima da média.

FICHA TÉCNICA

Título: "G.I. Joe: A Origem de Cobra"
Título original: G.I. Joe: Rise of Cobra
País: EUA
Ano: 2009
Direção: Stephen Sommers
Roteiro: Stuart Beattie, David Elliot, Paul Lovett, baseado nos quadrinhos de Michael Gordon
Elenco principal: Channing Tatum, Arnold Vosloo, Sienna Miller, Ray Park, Rachel Nichols, Adewale Akinnuoye Agbaje, Said Taghmaoui, Marlon Wayans, Joseph Gordon-Levitt, Dennis Quaid, Christopher Eccleston, Karolina Kurkova.
Duração: 118 min.
Gênero: Ação
Sinopse: Adaptação dos personagens em quadrinhos, por sua vez inspirados na coleção de bonecos Comandos em Ação. No filme, centrado em como o Cobra tornou-se um grupo terrorista, a elite militar americana conhecida como G.I. Joe está na Europa quando recebe a missão de derrotar uma organização do mal, liderada por um traficante de armas.
Estréia: 07 de agosto de 2009

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Diversão só para a família

A onda de filmes em 3D chega à franquia da série “A Era do Gelo”, iniciada em 2002. O trio de amigos Sid, Manny e Diego, desta vez, são surpreendidos pela descoberta de que os dinossauros continuam vivendo em um vale subterrâneo e são uma ameaça aos animais da superfície. Quando Sid é sequestrado por uma tiranossauro, o grupo parte em busca do amigo e conhece Buck, uma doninha mentalmente perturbada que vive no vale e cuja obsessão é derrotar a maior fera dentre eles, o dinossauro albino Rudy. Neste longa, o trio conta com os novos amigos do segundo filme: os gêmeos gambás e a esposa de Manny, Ellie, que está esperando um filhote.

Com a direção do brasileiro Carlos Saldanha, à frente da franquia desde o segundo filme, “A Era do Gelo 3” diverte, mas, ao contrário dos anteriores, mais pela ação que pela comédia. O roteiro traz piadas grosseiras, em certos pontos até inadequadas para o público infantil, mas também clichês para o público adulto. E ao explorar valores tradicionais de família, ética e amizade, se torna o filme mais enfadonho da série.

Se por um lado erra feio no humor, acerta na ação. O filme traz cenas dignas de um videogame, e momentos em que o espectador pode se sentir, se não em uma montanha-russa, pelo menos em um simulador. Mas ainda sim, talvez por restrições tecnológicas ou falta de conhecimento mesmo, Saldanha não soube explorar as possibilidades trazidas pelo recurso 3D, ou seja, não existem muitas diferenças entre a projeção tradicional e a tridimensional, a não ser no valor do ingresso.

Outra decepção é o esquilo Scrat, que agora ganhou uma namorada, porém não tem mais o mesmo brilho do primeiro longa e se torna dispensável neste filme, que não passa de um pretexto para ir com a família ao cinema, nada mais.




FICHA TÉCNICA

Título: "A Era do Gelo 3"
Título original: Ice Age: Dawn Of The Dinosaurs
País: EUA
Ano: 2009
Direção: Carlos Saldanha
Roteiro: Peter Ackerman, Michael Berg, Yoni Brenner e Mike Reiss
Elenco principal: Na versão dublada, vozes de Diego Vilela (Manny), Tadeu Mello (Sid), Márcio Garcia (Diego) e Claudia Jimenez (Ellie).
Duração: 96 min.
Gênero: Aventura/Animação
Sinopse: No terceiro filme da série, Scrat continua tentando agarrar a noz fujona e nesse processo talvez encontre o verdadeiro amor; Manny e Ellie esperam o nascimento de seu mini-mamute; a preguiça Sid forma sua própria família adotiva sequestrando alguns ovos de dinossauro; e Diego, o tigre dentes-de-sabre, se pergunta se não está ficando “mole” demais devido à convivência com seus amigos. Em uma missão para resgatar o azarado Sid, a turma se aventura em uma nova era, onde a fauna e a flora são diferentes. Neste local, dão de cara com dinossauros, lutam contra plantas carnívoras de fúria assassina – e conhecem uma incansável doninha de um olho só, caçadora de dinossauros, chamada Buck.
Estreia: 1º de julho de 2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O fantástico mundo de Tim Burton

Saiu essa semana na web o primeiro trailer do mais novo filme do genial Tim Burton, "Alice no País das Maravilhas". Depois de refilmar o clássico "A fantástica fábrica de chocolate", Tim Burton volta ao universo fantástico estilo parece-infantil-mas-é-bizarramente-adulto, que o tornou um dos poucos diretores de Hollywood que ainda consegue deixar um assinatura em seus filmes.

Além disso, Burton retoma a parceria de sucesso com Johnny Depp, que começou com "Edward Mãos-de-Tesoura", de 1990. De lá pra cá, foram mais seis filmes(Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, a refilmagem de A Fantástica Fábrica de Chocolate, a animação A Noiva-Cadáver, e Sweeney Todd o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet), incluindo "Alice no País das Maravilhas", em que viverá o Chapaleiro Maluco.



A trama deste novo filme,que está em fase de pós-produção, será uma espécie de sequência do clássico original: Alice (Mia Wasikowska), aos 17 anos, vai a uma festa vitoriana e descobre que está prestes a ser pedida em casamento perante centenas de socialites. Ela então foge, seguindo um coelho branco, e vai parar no País das Maravilhas, um local que ela visitou há dez anos, mas não se lembrava.

"Alice no País das Maravilhas" é, ao lado de "Frankenweenie, um dos dois projetos do diretor com o Walt Disney Studios que serão exibidos em 3D. Além de Johnny Depp, Anne Hathaway, Alan Rickman, Matt Lucas, Michael Sheen, Helena Bonham Carter,Crispin Glover, Christopher Lee e Eleanor Tomlinson também estão no elenco.

O filme estreia em 5 de março de 2010.

*Com informações do site Omelete

sábado, 18 de julho de 2009

Equilíbrio de forças

“Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, o filme mais esperado dos últimos 11 meses, finalmente chegou aos cinemas essa semana. O filme, que em agosto do ano passado teve a estréia adiada de 21 de novembro de 2008 para o dia 15 deste mês, irritando a maioria dos fãs (inclusive eu), já arrecadou mais de 100 milhões de dólares em apenas um dia, uma quarta-feira.

Dizer que a expectativa era enorme pode parecer redundante, mas não é exagero, pois tudo em se tratando do jovem bruxo de J.K. Rowling é grandioso. Além de ser uma das sagas de maior sucesso no mundo, que mantém todos os filmes até este na lista das 30 maiores bilheterias de todos os tempos, em “O Enigma do Príncipe” vamos desvendar o passado de Lord Voldemort, mas também ver Harry perder uma pessoa muito querida e próxima, em um dos momentos mais emocionantes de toda a série.

Depois da morte do padrinho Sirius Black, em “A Ordem da Fênix”, Harry mal tem tempo de se recuperar da dor da perda do único familiar ainda vivo e é designado por Dumbledore a cumprir uma delicada tarefa. Harry tem que se aproximar do novo professor de Poções, Horácio Slughorn, para arrancar dele uma importante memória sobre o passado de Voldemort. Ao mesmo tempo e do outro lado, Draco Malfoy também é incumbido de uma grande missão. Enquanto tenta descobrir o que o Professor Slughorn parece esconder com tanto afinco, Harry embarca em uma jornada pelas memórias de Dumbledore sobre Tom Riddle, ou seja, você sabe quem.

Os primeiros dez minutos do longa funcionam como um prefácio do que está por vir: o filme mais sombrio da saga e uma explosão de hormônios adolescentes. O diretor David Yates dá destaque aos conflitos de relacionamento entre os jovens bruxos, o que torna o filme e até nosso próprio herói mais humanos, pois se mostram ciumentos, invejosos, inseguros e um pouco malandros também. Até Dumbledore parece mais à vontade em lidar com a libido adolescente e chega a perguntar a Harry se existe alguma coisa entre ele e Hermione. Impagável!

O roteiro enxuto poupa o espectador de explicações, apesar de dar mais atenção aos diálogos que os filmes anteriores. Sendo um livro de transição, em que se aguarda o momento da grande batalha entre Lord Voldemort e Harry Potter, a autora foi obrigada a tentar desatar alguns nós, e utiliza do clássico recurso do flashback, que também é incorporado ao filme. Porém, o livro acaba se tornando um pouco cansativo, o que não acontece com o filme, que flui melhor. Yates optou por apenas três flashbacks (sendo dois sobre o mesmo momento), que eram os mais importantes, e ainda acrescentou uma das melhores cenas de ação da saga, que não constava no livro, para dar mais dinamismo ao filme.

Algumas personagens ganham mais destaque, como Draco Malfoy e Gina Weasley, assim como as pitadas de humor, que, por incrível que pareçam, são protagonizadas também por Harry - é ótimo ver como Daniel Radcliffe amadureceu profissionalmente, principalmente quando Harry está sob efeito da poção Félix Felicis - e não apenas pelo amigo trapalhão Rony Weasley. Aliás, os caçulas da família Weasley, Gina e Rony, se mostram cada vez mais inteligentes e populares na escola. A vitória no quadribol, que está de volta nesse episódio da série, lhe rende até uma namorada! Já Harry se mostra mais maduro, obediente e menos revoltado que no último filme, pois parece aceitar a difícil tarefa que lhe foi imposta na guerra contra o Lord das Trevas. Mas, como todo adolescente, tenta tirar proveito das vantagens que a vida proporciona, ao tentar chamar a atenção de uma garota na escola ou mesmo colando de um misterioso livro usado nas aulas de Poções.

A propósito, a história do Príncipe Mestiço (o “half-blood Prince” do título), o dono misterioso do livro que Harry usa na aula de Poções, passa batida, mas justifica-se, pois a prioridade de Yates no longa é preparar o campo para a próxima fase da história, e para isso precisava dar atenção à relação entre Dumbledore e Harry, aos flahsbacks que explicam a origem de Voldemort e ao amadurecimento de toda a turma.

Porém, como nem tudo é perfeito, David Yates peca em alguns momentos, mas nada que comprometa sua qualidade, já que o diretor se mostrou o melhor da série, ao equilibrar corretamente os diálogos e as cenas de ação. Os fãs mais fervorosos podem sentir falta da família Dursley (se é que é possível), de Fleur DeLacour ou do novo ministro da magia, Rufo Scrimgeour, que estão na obra original. Mas talvez a cena em que os Comensais da Morte invadem Hogwarts tenha sido a mais prejudicada. Um dos momentos mais tensos do livro, a sequência começa mantendo a euforia, principalmente pela edição que mescla o encontro entre Malfoy e Dumbledore e a chegada dos comensais pelo Armário Sumidouro, mas depois esfria, pois a tão aguardada luta entre alunos, professores e os comensais foi omitida no filme.

Se aqui ele pecou pela falta, em outro momento, peca pelo excesso. Na cena em que Harry conhece o professor Horácio Slughorn, o rapaz fica deslumbrado com a magia usada por Dumbledore para arrumar a casa, o que, na idade dele e depois de tudo que passou, não é verossímil. A direção de arte, sempre fiel ao universo de J.K Rowling, também comete uma pequena falha: observe que o orfanato em que Tom Riddle vivia quando criança, por exemplo, se parece com o Departamento de Mistérios do Ministério da Magia, no filme de 2007. Mas acerta em cheio ao mostrar, no Beco Diagonal, o contraste entre a loja dos gêmeos Weasley e o abandono das outras. Já a fotografia aproveita que o filme é mesclado de momentos sombrios e eufóricos para variar também no uso de luz e cores. Nos flashbacks na penseira de Dumbledore, observa-se o predomínio da cor verde, que é a cor da Sonserina, ou seja, nada mais apropriado já que se falava de Voldemort. Nos momentos descontraídos opta por cores quentes e já nos sombrios predominam tons mais escuros e monocromáticos, endossado pelas paisagens sempre desertas e o tempo nublado. Parecem escolhas óbvias (e realmente são), mas cumprem o papel de maneira eficiente.

Tão gostoso de se ver é também o trabalho dos atores. Daniel Radcliffe prova que amadureceu como ator e mostra um trabalho se não brilhante, pelo menos competente. Não se pode culpá-lo, afinal, o brilho é mesmo dos veteranos e fica difícil competir com eles. A vantagem de ter atores tão experientes como Alan Rickman, Michael Gambon, Helena Bonham Carter ou Jim Broadebent no elenco é proporcionar ao espectador atuações inspiradas mesmo em um filme tão comercial. A cena do embate entre Snape e Dumbledore, por exemplo, fica ainda melhor que no livro graças às expressões de seus atores, Rickman e Gambon. A personalidade de Snape deixa o espectador sempre com um pé atrás, mas, desta vez, é justamente o contrário: Rickman e Gambon nos fazem acreditar que alguma coisa está errada com aquilo tudo. Destaque também para a caracterização de Dumbledore, que parece realmente ter envelhecido alguns anos do último filme para cá. Pra reforçar, Gambon interpreta um diretor que parece sempre cansado e mais fraco, o que justifica o fato de que todos temem pelo tempo que Dumbledore vai conseguir aguentar. Certo mesmo é que os fãs vão ter que agüentar pelo menos mais um ano para ver o início da conclusão da série, já que o último livro foi desmembrado em dois filmes. Pelo menos, dessa vez, valeu a pena esperar.

FICHA TÉCNICA

Título: "Harry Potter e o Enigma do Príncipe"
Título original: Harry Potter and the Half-Blood Prince
País: EUA/Reino Unido
Ano: 2008
Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves
Elenco principal: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Julie Walters, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Bonnie Wright, Jessie Cave, Tom Felton, Jim Broadbent, Maggie Smith, Michael Gambon, Evanna Lynch.
Duração: 153 min.
Gênero: Aventura
Sinopse: Harry Potter (Daniel Radcliffe) suspeita de perigos que se aproximam, enquanto o diretor da escola, Dumbledore (Michael Gambon), já pensa na batalha final, que ele sabe que está por vir. Juntos, descobrem uma forma para se defenderem de Voldemort (Ralph Fiennes), que aparece cada vez mais perigoso, impedindo a segurança de Hogwarts. Dumbledore contrata seu antigo amigo, o Professor Horácio Slughorn (Jim Broadbent), pois acredita que ele tenha informações cruciais para ajudá-lo. Além dos perigos que rondam a escola, os adolescentes estão com os hormônios a flor da pele, o que promete muito romance no ar.
Estreia: 15 de julho de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Muita pretensão

Atenção! Este texto contém spoilers. Mas em se tratando de “Transformers: A Vingança dos Derrotados”, isso não é problema. Cada passo dos protagonistas Sam, Mikaela e dos barulhentos robôs é tão previsível que acho difícil contar aqui algo que até mesmo um espectador de 11 anos não consiga prever durante a projeção.

A sequência do filme de 2007, com que este blog é até simpático, começa com um flashback de quase 20.000 anos. Retornando aos tempos pré-históricos, descobrimos que os Decepticons já haviam estado na Terra e travado aqui uma grande batalha. No fim da guerra, uma poderosa fonte de energia para os robôs alienígenas – chamada de Matriz – é escondida pelos robôs bonzinhos, para evitar a destruição de planetas, inclusive a da própria Terra. Já no tempo presente, os Decepticons decidem retornar ao nosso território para justamente procurar essa fonte de energia. Mas para encontrá-la, eles precisam de Sam (Shia LaBeouf), que, acidentalmente, absorveu em sua mente o mapa que pode indicar a localização exata da Matriz, o que vai provocar uma nova guerra entre os Decepticons e os Autobots.

O roteiro pobre (e muitas vezes, incoerente) de Ehren Kruger, Roberto Orci e Alex Kurtzman os fazem parecer amadores, o que é surpreendente, pois os dois últimos já assinaram filmes de ação de alto nível, como “Star Trek” e “Missão: Impossível 3”, ambos do cultuado J.J. Abrams. O texto do trio opta por caminhos mais fáceis para resolver problemas, como quando o grupo do bem encontra a tumba dos Prime, uma espécie de linhagem real de robôs, ou quando os Decepticons interceptam o satélite de comunicação dos Estados Unidos, o que permite com que eles descubram onde os militares mantinham o Megatron adormecido. Ou ainda quando o Fallen, o patriarca dos Decepticons, repete que quem só pode derrotá-lo é um robô Prime, ou seja, para que o espectador aceite a derrota dos maus no final (ih, contei!), mesmo sabendo que o arsenal dos mauzinhos é infinitamente superior. E por aí vai.

A narração que inicia e conclui a história tenta dar um espírito épico à narrativa, mas exagera no tom messiânico, que beira o ridículo. De épico mesmo, só as duas horas e meia de duração (que poderiam facilmente virar somente duas). Momento igualmente patético é a 'ressurreição' de Sam. Fico imaginando onde seria o céu dos robôs. O filme também não encontra o tom na caracterização dos robôs, que se mostram humanos demais em momentos dispensáveis como quando um deles diz sentir o ‘cheiro’ do inimigo, ou o linguajar dos robôs-gêmeos, que imita, de forma estereotipada, o de afro-descendentes americanos.

A infinidade de clichês cansa e dá até pena, como a cena em que Mikaela aguarda contato de Sam pela webcam, em seu primeiro dia na universidade, ou quando ela chega no campus e flagra o namorado com outra na cama, mesmo sendo essa outra uma alienígena que é uma mistura da ciborgue de “O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas” com a mutante de “A Experiência”. Apesar da baboseira patriótica típica de filmes de ação, principalmente os de Michael Bay, o diretor prova que sabe dirigir cenas do gênero, sempre grandiosas, com efeitos visuais impecáveis e edição de som envolvente, mas o que dizer da direção de atores? Tudo bem que a capacidade de alguns deles é bem limitada. Megan Fox, por exemplo, o que tem de linda tem de ruim. E como sua beleza estonteante predomina, é explorada até o limite, desde a primeira aparição da personagem, montada em uma moto com um micro short. Já o protagonista Shia LaBeouf não supera expectativas, um pouco prejudicado pelas cenas em que surta com os códigos da All Spark em sua cabeça, mais uma prova do péssimo gosto de Bay, mas pelo menos LaBeouf mostra que manteve o mesmo nível do filme anterior, o que ainda deve dar fôlego para o terceiro filme.

A pretensão de Bay com “Transformers 2” é tanta que ele acredita que consegue fazer comédia, e tenta ser engraçado em alguns momentos, principalmente aqueles protagonizados pela mãe de Sam. No entanto, a tentativa acaba tornando o longa ainda mais cansativo. O único que ainda convence é o agente Simmons, vivido pelo veterano John Turturro, que tem o timing perfeito de comédia. A mesma pretensão é passada aos militares do filme. Afinal, por que mandar os humanos enfrentarem os Decepticons na frente, se eles não sabem que não têm a menor chance? Ou será que eles acham que podem vencer robôs de dez metros de altura com fuzis e metralhadoras?

O jeito agora é esperar que o terceiro seja, pelo menos, tão divertido quanto o original, que se tornou mais interessante depois desse fiasco, pois tanta pretensão e previsibilidade fizeram de “Transformers 2” apenas uma longa espera para um final entediosamente inevitável.


FICHA TÉCNICA

Título: "Transformers: A Vingança dos Derrotados"
Título original: Transformers: Revenge of the Fallen
País: EUA
Ano: 2009
Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger, Roberto Orci e Alex Kurtzman
Elenco principal: Shia LaBeouf, Megan Fox, Josh Duhamel, Tyrese Gibson, John Turturro, Matthew Marsden, Glenn Morshower, Ramon Rodriguez.
Duração: 148 min.
Gênero: Ação
Sinopse: Sam (Shia LaBeouf) e Mikaela (Megan Fox) voltam a ficar na mira dos Decepticons, que desta vez precisam do rapaz vivo, já que ele detém conhecimentos valiosos sobre as origens dos Transformers e como aconteceu a história dos robôs neste planeta. Em paralelo, os militares americanos e uma força internacional unem-se aos bons Autobots para enfrentar os vilões.
Estreia: 24 de junho de 2009

sábado, 27 de junho de 2009

Musicais em alta

Depois que o australiano Baz Luhrmann trouxe os musicais de volta à Hollywood, com "Moulin Rouge", de 2001, a indústria norte-americana não parou mais de produzir novos filmes do gênero, que passou a ser melhor aceito entre o público e voltou a conquistar prêmios importantes (como o Oscar de melhor filme de "Chicago" ou a Palma de Ouro em Cannes de "Dançando no Escuro", de Lars Von Trier).

Uma das fontes mais obviamente utilizadas para a produção de filmes musicais são as peças de maior sucesso na Broadway, como "O Fantasma da Ópera", "Hairspray" ou "Mamma Mia". Casos curiosos comprovam que o gênero voltou para ficar. É o que podemos observar no exemplo de "Os Produtores", que originalmente foi escrito par o cinema (o "Primavera para Hitler", de Mel Brooks) sem muito sucesso, virou musical em Nova Iorque de estrondoso sucesso e voltou às telas com a dupla de atores que estrelava a peça na Broadway, e no de "Billy Elliot", de Stephen Daldry, que nos cinemas passou despercebido do grande público, apesar da excelente qualidade, mas hoje é um musical de reconhecido sucesso de público e crítica.

Nessa onda, chegam às telas de cinema em 2010 dois musicais de forte apelo, por motivos diferentes. "Nine", de Rob Marshall (que dirigiu "Chicago"), é baseado no filme "8 e 1/2", do mestre Frederico Fellini. Com elenco oscarizado que inclui Nicole Kidman, Penélope Cruz (interessante ver duas ex de Mr. Tom Cruise em um mesmo filme), Judi Dench, Marion Cottilard, Daniel Day-Lewis, além da cantora Fergie e da bonitinha Kate Hudson. Conta a história de um diretor de cinema que luta para encontrar harmonia em sua vida profissional pessoal, ao mesmo tempo que precisa lidar com as mulheres de sua vida.

Veja o trailer:



Muitas chances de conseguir indicações ao Oscar, principalmente agora que a Academia resolveu voltar a uma tendência de sua era de ouro, indicando 10 candidatos à categoria principal.

Já "Fama", refilmagem do clássico de 1980, do diretor Alan Parker, promete chamar a atenção da 'geração High School Musical'. O filme vai contar a história de um grupo de adolescentes talentosos que frequentam uma escola especial de artes performáticas, ou seja, sem novidades no front.

Confira o trailer:

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Entre a cruz e a espada

Os livros do norte-americano Dan Brown parecem ter sido feitos para a tela grande. A narrativa que sempre apela para ganchos que atiçam a curiosidade e constrói momentos de tensão lembram muito o roteiro de um filme. Em “Anjos e demônios”, o desafio, portanto, era fazer do longa o mais próximo possível de uma continuação e não uma refilmagem do anterior, “O código Da Vinci”, já que os livros são praticamente idênticos.

Coube aos roteiristas David Koepp e Akiva Goldsman adaptar a obra tão recheada de personagens de personalidade dúbia, reviravoltas óbvias e teorias conspiratórias quanto a anterior. De quebra, em se tratando de um best-seller, a dupla ainda teria que tentar não matar de tédio o leitor da obra original, que já sabe de cor cada passo dos protagonistas.

A dupla de roteiristas optou, então, por uma série de mudanças na história que podem até desagradar os fãs, e que, de fato, surpreendem. As personagens e conflitos omitidos até que funcionam, pois o filme consegue prender a atenção até de quem leu o livro mais de uma vez. Ao contrário do livro, que custa a deslanchar, o filme economiza na teoria e parte logo para a ação. Tom Hanks é, novamente, o simbologista Robert Langdon. Desta vez, é chamado pelo Vaticano para impedir uma série de ameaças atribuídas ao Illuminati, uma sociedade secreta antiga formada por cientistas e intelectuais que combatiam os dogmas da Igreja Católica. O algoz promete matar a cada hora um dos quatro cardeais favoritos a sucessão papal e, para piorar, explodir toda a cidade sagrada com uma partícula de anti-matéria recém-produzida com o acelerador de partículas pela equipe da cientista Vittoria Vetra (Aylet Zurer), que auxilia Langdon a encontrar uma trilha de mais de 400 anos cujas pistas são monumentos pagãos do artista Bernini encontrados em igrejas de Roma.

O roteiro explora em diversos momentos o contraste entre ciência e tecnologia e religião, que é o centro da história, como nas cenas no Arquivo do Vaticano ou da chegada dos cardeais à cidade santa. O texto ainda consegue, de forma satisfatória, atribuir a outros as funções de personagens suprimidos, consertando falhas no texto de Dan Brown que tornaram a história mais verossímil, dinâmica e ainda mais tensa.

Com uma direção de arte rica em detalhes e fotografia que, juntas, ensaiam um passeio turístico pela capital italiana, a nova aventura de Robert Langdon chegou a sofrer represálias do Vaticano, mas acaba simpático à Igreja Católica, principalmente com a (feliz) mudança no final e com o destaque aos bastidores do conclave.
A direção insípida e tão criticada de Ron Howard não chega a incomodar, mas apenas cumpre seu papel. Howard até demonstra alguns momentos de inspiração, como as cenas no CERN e a morte do terceiro preferiti (a do fogo), mas deixa a desejar na direção dos atores. A morosidade de Tom Hanks e a interpretação insossa de Aylet Zurer não combinam com a correria frenética da narrativa. Por outro lado, o irlandês Ewan McGregor, como o camerlengo Patrick McKenna, assistente do falecido Papa que assume o cargo enquanto a vaga está desocupada, faz um trabalho mais convincente.

Já a edição e a trilha sonora, novamente assinada por Hans Zimmer, contribuem para a tensão criada pela corrida contra o tempo, bem melhor resolvida nas telas que no livro, onde se tem a impressão de que os minutos levam muito mais do que 60 segundos. “Anjos e demônios” não é um filme cheio de pretensões, a não ser a pura diversão, e aqui Howard se sai bem melhor que em “O código Da Vinci”, cuja narrativa proporcionava momentos enfadonhos. Talvez o grande mérito deste filme seja também seu grande pecado, pois, ao mesmo tempo que a fidelidade com o original tenha sido deixada de lado, o resultado acaba, sendo superior a obra em que foi inspirado, mas tão perecível quanto os papiros de Galileu.


FICHA TÉCNICA

Título: "Anjos e demônios"
Título original: Angels & Demons
País: EUA
Ano: 2009
Direção: Ron Howard
Roteiro: David Koepp e Akiva Goldsman, baseado em livro de Dan Brown
Elenco principal: Tom Hanks, Ayelet Zurer, Ewan McGregor, Stellan Skarsgård, David Pasquesi, Cosimo Fusco, Allen Dula.
Duração: 140 min.
Gênero: Suspense
Sinopse: O assassinato de um cientista faz com que o professor de simbologia Robert Langdon (Tom Hanks) e Victoria Vetra (Ayelet Zurer), filha do homem morto, envolvam-se com a sociedade secreta dos Illuminati. As pistas levam a dupla ao Vaticano, onde uma conspiração envolvendo o assassinato de cardeais, às vésperas da eleição do novo Papa, coloca-a em perigo.
Estréia: 15 de maio de 2009

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Alegoria carnavalesca e sem sal

Entre os mutantes X-Men, Wolverine é o que tem o maior número de fãs e cuja história tinha o maior potencial para um filme-solo. Enigmática, a origem do mutante das garras de adamantium nunca tinha ficado muito clara em nenhum dos três filmes da série, o que despertava a curiosidade dos novos fãs. O inevitável aconteceu e o mutante ganhou seu próprio filme nas mãos do diretor sul-africano Gavin Hood, que, pasmem, dirigiu o ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro “Infância Roubada” e ainda o irregular “O Suspeito”.

“X-Men Origins: Wolverine” (no original), porém, não cumpre nem passa perto da promessa. O filme, como obviamente o título sugere, tenta contar a origem do mais carismático e ranzinza dos X-Men, até o ponto em que começa sua história no primeiro filme dos mutantes. O longa começa com um rápido flashback da infância de pequeno Logan e de seu irmão mais velho e futuro rival Victor Creed, o Dente-de-Sabre. A cena, que funciona como prelúdio da saga, é piegas e de extremo mal gosto, principalmente quando o jovem Logan tem um acesso de raiva. Daí em diante, é ladeira abaixo.

Os irmãos, cuja relação é inicialmente harmoniosa, logo se mostram diferentes um do outro. A personalidade violenta de Victor (interpretado pelo insosso Liev Schreiber) acaba fazendo com que os dois conheçam o ambicioso coronel William Stryker, que está reunindo mutantes para montar um tropa de elite que vai defender interesses do governo norte-americano. Mas essa mesma brutalidade de Victor, incentivada por Stryker, leva Logan (vivido novamente pelo multimídia Hugh Jackman) a abandonar a equipe, o que acabou minando a estrutura do time. Anos depois, os ex-colegas de trabalho são vítimas de um assassino em série, e os irmãos se reencontram na tentativa de eliminar o tal matador.

Cheio de reviravoltas mais que previsíveis, falta cérebro ao filme de Gavin Hood, que não funciona nem como filme de ação. Com exceção do embate final entre Wolverine, Dente-de-Sabre e o mutante híbrido chamado de Arma XI (a X era o próprio Wolverine), as cenas de luta não conseguem criar a adrenalina típica e tão facilmente explorada pelos filmes do gênero. Nem mesmo a aparição de novos mutantes – uma tentativa de fazer deste um X-Men 4 – empolga. Remy LeBeau, o Gambit, coitado, que esperou quase dez anos para aparecer nas telas de cinema, só entra para ser humilhado por Logan. Faltou o dedo de Bryan Singer ou até mesmo de Brett Ratner, que fizeram bons trabalhos na trilogia X-Men. No fim, a instigante e obscura história da origem do mutante que, por um triz, não foi o líder do X-Men (como vemos no filme), apesar de esclarecida, ficou muito aquém do que merece o herói.


FICHA TÉCNICA

Título: "X-Men Origens: Wolverine"
Título original: X-Men Origins: Wolverine
País: EUA
Ano: 2008
Direção: Gavin Hood
Roteiro: David Benioff
Elenco principal: Hugh Jackman, Liev Schreiber, Danny Huston, Taylor Kitsch, Will. i. am., Dominic Monaghan, Ryan Reynolds.
Duração: 111 min.
Gênero: Ação
Sinopse: O longa conta a história do passado violento e romântico de Wolverine (Hugh Jackman), de seu complexo relacionamento com Dentes de Sabre (Liev Schreiber), e do ameaçador programa Arma-X. Wolverine encontra muitos mutantes pelo seu caminho, tanto familiares quanto novos, incluindo aparições surpresas de várias lendas do universo dos X-Men.
Estréia: 30 de abril de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Uma filosofia de vida

Sempre concordei com os conceitos sydfieldianos* sobre como escrever um roteiro, cujo principal mandamento diz que uma história precisa ter um plot – que é aquele momento-chave que faz a trajetória das personagens deslanchar, ou seja, um objetivo que o protagonista precisa atingir, como conquistar um grande amor, desvendar as razões de uma morte misteriosa ou descobrir a cura de um novo vírus mortal.

Mas não lembro de ter visto um filme sem plots que tenha dado tão certo quanto “Simplesmente feliz” (“Happy-Go-Lucky”, no original). O filme é centrado na professora primária Poppy, vivida brilhantemente por Sally Hawkins. Solteira, 30 anos, sem filhos, Poppy divide um apartamento com uma amiga, também professora, e encara a vida sempre com um sorriso estampado no rosto.

O fio condutor da história é a relação de Poppy e Scott (Eddie Marsan), seu instrutor de direção. A professora decide aprender a dirigir quando sua bicicleta é roubada. O contraste perfeito entre o positivismo de Poppy e o mau humor do instrutor rende ótimos momentos. O último encontro dos dois, aliás, é emocionante.

Outra ótima sequencia do filme, mas totalmente oposta, é a primeira aula de flamenco. As instruções da intensa e obsessiva professora espanhola nos faz grudar na tela, mas as expressões de Poppy seguindo à risca o que era pedido são impagáveis.

Se o excesso de otimismo da professora pode parecer artificial, em alguns momentos, o roteiro nos revela, sutilmente, conflitos enfrentados interna e externamente por Poppy que a tornam mais humana. Ao mesmo tempo que adota o bom humor como filosofia de vida, Poppy não foge dos problemas e enfrenta-os com coragem e determinação. A preocupação com um aluno de comportamento agressivo, a relação amorosa com um colega de trabalho, a complicada e com sua irmã e a paixão inesperada de que é alvo são exemplos disso. Grandes sacadas do roteiro de Mike Leigh na construção da personagem.

A trilha sonora alegre e as roupas coloridas e extravagantes também estão em perfeita sintonia com a personalidade de Poppy, que é capaz de sorrir e se divertir mesmo em pé em um ônibus lotado e depois de quase cair quando o motorista faz uma curva brusca.

Acostumado com tramas complexas e mais dramáticas, como em “Segredos e Mentiras” e “O Segredo de Vera Drake”, o diretor britânico acerta em cheio ao trabalhar com personalidades tão diferentes e complicadas em certos aspectos, de maneira tão leve e despretensiosa, e nos presenteia com um filme cativante, simpático e divertido, mas ao mesmo tempo, denso e inteligente.

O filme mostra que ver o lado bom das coisas pode ajudar a levar uma vida mais saudável e menos estressante. Se roubarem sua bicicleta, veja isso como um incentivo para tirar a carteira de motorista! Não é, porém, uma questão de se anular, deixar de se expressar, muito pelo contrário. Poppy nos mostra que temos que fazer o que temos vontade, seja pular em uma cama elástica, dançar flamenco ou ficar bêbado em uma balada com os amigos, e tentar não deixar ser reprimido pelos outros. A vida é simples como a felicidade, quem a complica somos nós.


* Syd Field é o mais popular professor de roteiro de Hollywood, autor do livro “Manual do roteiro”, uma espécie de bíblia para os roteiristas, mas também alvo de críticas devido a certos paradigmas que hoje são considerados ultrapassados e limitados.

FICHA TÉCNICA

Título: "Simplesmente feliz"
Título original: Happy-Go-Lucky
País: Reino Unido
Ano: 2008
Direção: Mike Leigh
Roteiro: Mike Leigh
Elenco principal: Sally Hawkins, Elliot Cowan, Alexis Zegerman, Andrea Riseborough, Sinead Matthews, Kate O'Flynn, Sarah Niles.
Duração: 118 min.
Gênero: Comédia
Sinopse: Poppy (Sally Hawkins) é uma mulher de 30 anos recém-completos que só sorri. Professora de crianças, tenta levar a vida numa boa, apesar de sem sempre ser compreendida. Isso é o que descobre quando resolve tirar a carta de motorista e encontra um instrutor (Eddie Marsan) que tem o oposto de seu positivismo.
Estréia: 27 de março de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sunshine Cleaning

"Pequena Miss Sunshine" (2006), de Jonathan Dayton e Valerie Faris, foi um sucesso tão grande que desde então o público espera por uma nova comédia que repita a "fórmula". Tentaram com "Juno" (2007), mas não colou, afinal, a comparação foi infeliz.

Este "Sunshine cleaning" tem tudo para chegar lá, ou quase. Com produção dos mesmos caras que trouxeram "Pequena Miss Sunshine", a comédia independente com uma história original e mirabolante sobre duas irmãs que montam uma empresa especializada em remoção de perigos biológicos e limpeza de cenas do crime conta com elenco talentoso que inclui o próprio Alan Arkin, que trabalhou em "Miss Sunshine" e ganhou o Oscar por aquele papel, além de Amy Adams e Emily Blunt, as irmãs protagonistas, e uma criança fofa (um menino dessa vez), com diretor e roteirista (mulheres!) até então desconhecidos e até um título que chega perto do da comédia de 2006.

Enfim, enquanto o filme não chega aqui (estreou semana passada nos EUA), confiram o trailer bacaninha logo abaixo:

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Preocupada com orçamentos, Hollywood vive febre de refilmagens

Por Steven Zeitchik e Borys Kit

LOS ANGELES (Hollywood Reporter) - A abertura impressionante de "Velozes e Furiosos 4" no fim de semana não apenas comprova que essa franquia ainda tem gás, como também alimenta a obsessão de Hollywood com filmes baseados em outros filmes.

Os estúdios vêm refazendo filmes desde os primórdios do cinema, mas no último ano, e especialmente nos últimos meses, a máquina dos remakes vem funcionando a pleno vapor.
Os anos 1980 viraram uma grande feira de títulos. "Tudo por uma Esmeralda", "Footloose - Ritmo Louco", "A Hora do Pesadelo", "Duna", "Karate Kid", "Amanhecer Violento", "RoboCop - O Policial do Futuro", "O Reencontro", "Arthur - O Milionário Sedutor", "Os Caça-Fantasmas" e "História Sem Fim" são apenas alguns dos títulos dessa década que estão sendo desenvolvidos novamente em Hollywood.

A tendência cresceu para abranger títulos menos conhecidos de outras mídias cujo valor pleno se pensava que já tivesse sido alcançado - e, em alguns casos, esquecido - muito tempo atrás (alguém pensou em "Candy Land"?).

Quando, em fevereiro, a Warner Bros. procurou roteiristas para vários projetos em aberto, oito dos dez pedidos foram para projetos baseados em filmes anteriores ou outras propriedades de marca.

PROPOSTAS COM MAIS CHANCES DE SEREM ACEITAS

Os produtores dizem que hoje é comum vasculharem listas de sucessos de décadas passadas para analisar o que poderia ser legal e criativamente mais fácil reembalar e montar num estúdio.
"Hoje em dia, se você quer fazer um filme, você pode empurrar uma pedra grande morro acima ou pode empurrá-la no plano", disse um produtor de estúdio, explicando a lógica por trás dos remakes. "A maioria de nós prefere empurrar no plano."

Quando o filme "Transformers" decolou, seus responsáveis foram procurados pela linha de brinquedos Hot Wheels, da Mattel, que perguntou se eles gostariam de encontrar uma trama envolvendo a marca venerável. A resposta foi negativa, mas um filme envolvendo os carrinhos Hot Wheels está em desenvolvimento agora na Warners.

O ciclo que vai do original ao remake vem ficando cada vez mais curto. Como "Velozes e Furiosos 4", que reúne o elenco principal e os roteiristas do filme original de 2001 e ocupa um terreno a meio caminho entre uma sequência e um remake, outros filmes estão voltando em nova roupagem em menos tempo do que nunca.

Neil Moritz, que produziu "Furiosos", está desenvolvendo uma nova versão do sucesso de ficção científica de 1990 "O Vingador do Futuro" e também relançando "XXX - Triplo X", que chegou aos cinemas há apenas sete anos. "Lara Croft" está ganhando novo tratamento de Dan Lin e da Warner Bros., apenas oito anos após o original com Angelina Jolie. A Fox já pensa em relançar sua franquia "Quarteto Fantástico", cujos dois filmes fizeram sucesso há poucos anos. E a Sony anunciou recentemente que vai trazer "Homens de Preto" de volta para mais uma aventura.

Ninguém está dizendo que "Titanic" ou "Forrest Gump" serão refilmados - por enquanto, pelo menos - mas o fato de que o público teen geralmente não se recorda de nenhum filme de mais de 15 anos atrás é um fator chave para o sucesso dos remakes. Dentro de um dois anos, os cinemas poderão exibir os mesmos títulos que foram lançados pela primeira vez durante o governo Clinton. Nas palavras de um produtor, "os anos 1990 já são terreno fértil".

REAÇÃO GARANTIDA

Algumas ondas anteriores de remakes tenderam a não fazer sucesso se os filmes não agradavam ao público. Foi o caso de uma onda verificada no final dos anos 1990 de remakes de seriados de TV, como "Mod Squad - O Filme" e "Perdidos no Espaço". Mas a mania de remakes de hoje não se deixa desencorajar tão facilmente.

"Com filmes originais, é preciso divulgar a ideia, a história - convencer as pessoas de que o filme merece ser visto", explicou um executivo. "Com algo que já é uma marca conhecida, nada disso é preciso."

Se os orçamentos para desenvolvimento de filmes estão menores, os estúdios podem buscar em seus próprios catálogos, como a MGM está fazendo com títulos como "Amanhecer Violento" e "RoboCop".

Parte da garimpagem de títulos antigos vista recentemente é algo de gerações: executivos de estúdios querem brincar com filmes que exerceram impacto sobre eles quando eram crianças ou jovens.

"Para executivos que cresceram com estes filmes, isto é arte. Eu estava fazendo meu próprio 'Madrugada dos Mortos' com câmera de 8 milímetros quando tinha 9 anos", contou Eric Newman, co-diretor da Strike Entertainment, que refez "Madrugada" com Zach Snyder e está desenvolvendo versões novas de "O Enigma de Outro Mundo", "Eles Vivem" e "O Monstro da Lagoa Negra".

"Não acho que isso signifique que estamos sem idéias. Acho que esses filmes foram grandes histórias, e as grandes histórias são recontadas inúmeras vezes."

O FATOR DO MEDO

Subjacente a todas essas razões, é a recessão, e, por extensão, o medo que estão motivando a tendência. Com menos projetos para desenvolver, os executivos de estúdio preferem apostar no que é seguro - e um remake é visto como algo mais seguro, mesmo que o filme nem sempre seja sucesso de bilheteria.

Mesmo assim, os executivos de Hollywood se dividem em relação à mania das refilmagens. "Criativamente falando, pode ser uma coisa negativa, mas em termos de dinheiro é uma boa opção", disse um executivo de estúdio.

Por outro lado, a participação nos lucros pode ser um problema porque, ao incluir as pessoas ligadas ao filme original, os remakes muitas vezes obrigam à inclusão de mais pessoas que precisam dividir os lucros do que seria o caso de uma ideia original.

Seja como for, a onda dos remakes está mudando como e o quê os produtores fazem, para o bem ou para o mal.

Um executivo de estúdio falou em tom resignado: "Hoje em dia eu me sento e vasculho o IMDb à procura de filmes, e passo tempo pesquisando os direitos sobre programas de TV antigos. É assim que passo cada vez mais do meu tempo de desenvolvimento."

Fonte: Reuters

sábado, 4 de abril de 2009

Irregular, mas preciso

A trajetória de “Quem quer ser um milionário?” no cinema é realmente impressionante. Com um orçamento de apenas US$ 15 milhões (“O curioso caso de Benjamin Button”, por exemplo, custou US$ 150 milhões, ou seja, dez vezes mais), o filme chegou a correr o risco de parar direto em DVD. Acabou estreando nos Estados Unidos em apenas 10 salas, em 16 de novembro de 2008, e faturou míseros US$ 360 mil no primeiro fim de semana.

Nesse meio tempo, venceu todos os prêmios em que esteve indicado como melhor filme. Aliás, desde 1997, quando o também britânico “O Paciente Inglês”, do falecido Anthony Minghella, faturou 9 Oscars, com um orçamento de apenas US$ 27 milhões, não vemos um filme de baixo orçamento ser tão premiado pela Academia.

Conclusão: em apenas três dias, no fim de semana seguinte ao Oscar, quando ganhou 8 prêmios, faturou a quantia de US$ 12 milhões, somadas mais de 2.200 salas pelo país. E no Brasil, foi o filme mais visto por três semanas seguidas.

Baseado no livro de Vikas Swarup, “Slumdog Millionaire” (no original) traz a história de Jamal, um rapaz favelado que participa de um programa de perguntas e respostas, tipo “Show do milhão”, para reencontrar um grande amor, a bela Latika. Só que ele acaba acertando as respostas, o que leva o apresentador canastrão a acreditar que ele estivesse trapaceando. Na delegacia, é torturado e interrogado e, durante o depoimento, descobrimos como ele chega a pergunta que valia 20 milhões de rúpias e que o tornaria o favelado milionário do título.

Jamal é interpretado pelo ator revelação Dev Patel, que consegue transmitir toda a doçura da personagem com um olhar melancólico e sincero. Latika fez nascer uma nova musa do cinema, a jovem Freida Pinto (que já está confirmada em elenco do novo filme de Woody Allen). Apesar de um talento dramático discutível, sua beleza enche a tela, favorecida por uma fotografia plástica que torna belas até mesmo as favelas de Mumbai.

Para os brasileiros principalmente, “Quem Quer Ser um Milionário?” pode ter um gostinho peculiar. Os mais atentos devem perceber algumas referências ao filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, que surgem não apenas no cenário escolhido para o filme. Impossível não comparar, por exemplo, a trajetória de Salim, o irmão do protagonista, com a de Zé Pequeno. Também a fotografia e a edição em muito lembram o trabalho feito no filme brasileiro, o que pode ser conferido já nos primeiros 10 minutos de “Milionário”. Danny Boyle, que assim como Meirelles trabalhou com atores inexperientes e amadores, não gosta da comparação, mas não chega a ser um demérito, e sim um fato curioso.

A trilha sonora premiada de A.R. Rahman também é digna de nota. Surpreende com a participação da cantora britânica M.I.A., famosa por incorporar o funk brasileiro em suas músicas, e traz muita criatividade. As canções de Rahman oscilam da balada romântica do tema de Latika ao pop eletrizante de “O...Saya”, além da divertida “Jai Ho”, vencedora do Oscar de melhor canção original, que ainda recebeu uma coreografia inspirada em Bollywood nos créditos finais do filme.

Mas as referências à maior indústria de cinema do mundo param por aqui. Mesmo longe da estética carnavalesca de Bollywood, “Slumdog millionaire” não se aprofunda em questões sociais ao optar por uma linguagem mais poética. O filme passa, sem discussões, pela exclusão social, exploração de menores e o conflitos entre muçulmanos e hindus, para não se comprometer. Da mesma forma, viaja pelos lugares mais conhecidos da Índia, como o Taj Mahal, as favelas de Mumbai e o rio Ganges, a maior lavanderia do mundo, construindo um retrato um tanto estereotipado do país.

O apelo ao melodrama também empobrece algumas cenas, principalmente as que envolvem o casal protagonista - como aquela em que Jamal conhece Latika ou a que em que, anos depois, eles trocam juras de amor eterno - mas não chega a incomodar, pois são coerentes aos momentos em que aparecem. Entretanto, o roteiro, que traz ainda cenas antológicas (e hilárias) como a que Jamal cai em uma poça de fezes só para pegar um autógrafo do seu ídolo, força a barra em momentos como a cena em que policiais torturam o rapaz para tentar fazer com que ele confesse a trapaça no jogo. O recurso parece um pouco exagerado, principalmente depois que o próprio delegado assume que se tratava de uma questão sem importância.

Por outro lado, a edição inteligente de Chris Dickens consegue driblar algumas armadilhas do roteiro, dissolvendo os flashbacks que mostram como Jamal sabia as respostas para as perguntas do programa. Depois da terceira pergunta, ele interrompe a estrutura inicial, que trazia primeiro as perguntas e depois o flashback, que poderia engessar a narrativa se mantida durante toda a projeção. Porém, o roteirista Simon Beaufoy opta, a partir de determinado momento, não entrar em detalhes sobre algumas justificativas. Quando o irmão lhe mostra um revólver Colt ou quando as crianças são obrigadas a cantar uma canção popular na Índia para Maman, o explorador de menores, temos que engolir que isso é o suficiente para que Jamal saiba quem inventou o revólver ou quem é o autor da cantiga, sem que o roteiro entre em detalhes.

Ao contrário de "Cidade de Deus", Boyle opta por uma narrativa mais leve e despretensiosa. Em se tratando de uma fábula em que um favelado fica milionário, é uma dentre tantas opções certeiras do simpático “Slumdog millionaire”.

FICHA TÉCNICA

Título: "Quem Quer Ser um Milionário?"
Título original: Slumdog millionaire
País: EUA / Inglaterra
Ano: 2008
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Simon Beaufoy, baseado em romance de Vikas Swarup
Elenco principal:Dev Patel, Anil Kapoor, Saurabh Shukla, Raj Zutshi, Jeneva Talwar, Freida Pinto, Irfan Khan, Azharuddin Mohammed Ismail, Ayush Mahesh Khedekar, Sunil Aggarwal, Jira Banjara, Sheikh Wali, Mahesh Manjrekar, Sanchita Couhdary, Himanshu Tyagi.
Duração: 120 min.
Gênero: Drama
Sinopse: Jamal Malik (Dev Patel) tem 18 anos, vem de uma família das favelas de Mumbai, Índia, e está prestes a experimentar um dos dias mais importantes de sua vida. Visto pela TV por toda a população, Jamal está a apenas uma pergunta de conquistar o prêmio de 20 milhões de rúpias na versão indiana do programa Who Wants To Be A Millionaire?. No entanto, no auge do programa, a polícia prende o jovem Jamal por suspeita de trapaça. A questão que paira no ar é: como um rapaz das ruas pode ter tantos conhecimentos? Desesperado para provar sua inocência, Jamal conta a história da sua vida na favela - onde ele e o irmão cresceram -, as aventuras juntos, os enfrentamentos com gangues e traficantes de drogas e até mesmo o amor por uma garota.
Estréia: 6 de março de 2009

quarta-feira, 25 de março de 2009

'Titanic' vai voltar aos cinemas em versão 3D digital

O filme "Titanic", que alcançou em 1997 a maior bilheteria da história, vai voltar aos cinemas em versão 3D digital. Atualmente o diretor do longa-metragem original, James Cameron, prepara o novo visual da produção. Ainda não há previsão de estreia.

Em entrevista à revista americana "Time" publicada esta semana, Cameron revela que a nova versão promete fazer o espectador se sentir dentro do Titanic junto com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, que estrelam o romance.

A tecnologia 3D digital, que conquista cada vez mais espaço em Hollywood, traz óculos especiais mais modernos e imagens captadas diretamente em três dimensões. O resultado é uma maior nitidez, fidelidade às cores e menor chance de causar enjoo nos espectadores, como acontecia com o antigo sistema 3D.

Cameron também trabalha em seu novo filme, a superprodução "Avatar", com estreia prevista para dezembro. Com orçamento em torno de US$ 200 milhões, o longa de animação traz uma trama futurista e também usa a tecnologia 3D digital.

Fonte: Portal G1

quinta-feira, 19 de março de 2009

Top 10 - Filmes baseados em HQs

Como essa semana não assisti nada que me inspirasse a escrever, resolvi inaugurar uma seção aqui no blog. Uma vez por mês você vai ver aqui uma lista de "10 mais" temática.

Aproveitando que estão em cartaz "Watchmen" e "The Spirit", o que também inspirou a Megazine, do jornal O Globo, a publicar uma matéria essa semana falando sobre as melhores e piores adaptações de quadrinhos para o cinema, resolvi começar com esse tema. Afinal, na natureza nada se cria, tudo se copia...rs

Mas antes da lista, quero deixar claro duas coisas: não sou um "conhecedor" de quadrinhos (acho que, na vida, só li mesmo a Turma da Mônica e alguma coisa dos X-Men) e também não considerei filmes feitos antes de 2000 (principalmente porque não os assisti). Daí justifica-se a ausência de "Superman - O Filme", por exemplo, considerado um dos melhores filmes baseados em quadrinhos por muita gente.

Portanto, para mim, as qualidades cinematográficos foram mais importantes que os méritos de fidelidade à obra original, por não conhecer as obras orginais.

Vamos a eles então:

10. Oldboy (2003)

Oh Dae-su é sequestrado e confinado em um quarto de hotel por 15 anos. Quando sai, só o que deseja é descobrir porque fizeram isso com ele e vingar-se. O filme do sul-coreano Chan-wook Park traz um dos finais mais surpreendentes que eu já assisti no cinema.

9. 300 (2006)

Baseado em quadrinhos de Frank Miller, "300" narra a batalha entre persas e espartanos, na Grécia Antiga. Com um visual arrebatador e muita tecnologia, o filme elevou a linguagem de filmes baseados em HQs a um novo patamar.

8. Homem de Ferro (2008)

Grande parte do sucesso de "Homem de Ferro" se deve ao carisma e talento de seu ator principal: Robert Downey Jr, que está sensacional como o herói. Mas o roteiro, que traz um humor refinado e cenas de ação espetaculares, também ajuda.

7. Anti-herói Americano (2003)

Nada de explosões ou lutas intermináveis. "American Splendor" (no original) é baseado em uma série de quadrinhos alternativos escritos pelo norte-americanos Hervey Pekar. No filme, mesclado com depoimentos reais do próprio, ele é vivido pelo ótimo Paul Giamatti. Com um tom tragicômico, conta a história da vida de Pekar, seu cotidiano, suas angústias e frustrações.

6. Sin City – A Cidade do Pecado (2005)

Mais um filme baseado em quadrinhos de Frank Miller. Dirigido pela dupla Robert Rodriguez e Quantin Tarantino, traz ótimos personagens, incluindo algumas figuras bem bizarras. Mistura de filme noir com "Kill Bill". E, claro, com direito a muito sangue!

5. Batman Begins (2005)

Christopher Nolan revolucionou a franquia do homem-morcego, ao retratar Gotham City de forma sombria e realista, muito diferente da Sapucaí criada por Joel Schumacher nos últimos filmes. Outro destaque foi a escolha do elenco, encabeçado pelo ótimo (e problemático) Christian Bale.

4. X-Men: O Confronto Final (2006)

Pode não ser o melhor filme dos mutantes, mas é o mais empolgante. Novos mutantes, o surgimento da Fênix Negra e a morte de três personagens demonstram uma certa ousadia de Brett Ratner. É o mais fiel à série animada, e por isso foi o que mais gostei.

3. Homem-Aranha 2 (2004)

Sam Raimi conseguiu superar o bom trabalho realizado no primeiro filme do Aranha. Com muito mais ação e humor, "Homem-Aranha 2" parece ser uma das adptações que melhor conseguiram traduzir a linguagem dos HQs para a tela grande.

2. V de Vingança (2005)

Tão violento quanto o seu próprio (anti-)herói é o impacto do filme no espectador. De forte conteúdo político, "V de Vingança" é baseada ne graphic novel de Alan Moore (o mesmo criado de Watchmen). A história se passa em uma Londres futurística, sob um governo totalitário, quando a jovem Evey é salva pelo anarquista e enigmático "V", que promove um levante contra a tirania e a opressão. Produzido pelos irmãos Wachowski (de "Matrix"), o filme discute os artifícios usados na política para a manutenção do poder.

1. Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008)

Como se já não fosse suficiente o feito de "Batman Begins", Nolan nos presenteia com um novo clássico do cinema. Um ator no auge de sua inspiração, uma história carregada de conteúdo político, roteiro recheado de frases marcantes, enfim, "The Dark Knight" não é só o melhor filme baseado em HQ mas é também um dos 10 melhores filmes produzidos nos últimos dez anos.

domingo, 8 de março de 2009

Muito barulho por nada

Adaptações de histórias em quadrinhos sempre rendem bons filmes. A interminável luta do bem contra o mal gera um sentimento de identificação universal que atrai milhões de espectadores e é garantia de renda alta para os estúdios. A expectativa em torno de “Watchmen – O Filme”, baseado nos quadrinhos de Alan Moore, não poderia ser diferente daquela vista com “Homem-Aranha” ou “Batman – O Cavaleiro das Trevas”.

É difícil falar de uma adaptação ambiciosa como essa – são doze volumes condensados em um longo filme com pouco mais de duas horas e meia – sem ao menos conhecer a obra que o originou. Para aqueles que desconhecem a história, o filme de Zack Snyder (o mesmo diretor de “300”) não diz a que veio.

“Watchmen – O Filme” deve agradar apenas aos fãs ou iniciados, ou ainda aqueles que vêem alguma graça em efeitos visuais exagerados e ensurdecedores. Com uma história confusa que não leva a lugar nenhum e momentos tediantes encabeçados pelo mutante Mr. Manhantan (vivido por Billy Crudup, a única personagem que faz algum sentido afinal, por mais fantasioso que seja), o maior erro do filme é não definir se os “heróis” tem ou não super-poderes. O excesso de efeitos visuais e o fetiche pelas lutas em câmera lenta, ao já saturado estilo "Matrix", colocam o espectador em dúvida acerca de origem das personagens. Depois de alguns flashbacks – recurso muito utilizado pelo filme para explicar fatos do presente – que tornam o filme uma colcha de retalhos, entende-se que, na verdade, os heróis são apenas humanos. Portanto, é constrangedor vê-los em fantasias esdrúxulas que os fazem parecer uma Liga da Justiça do Paraguai.

Para piorar, coloca os heróis em situações no mínimo embaraçosas – como na cena em que a capacidade sexual do Coruja (vivido por Patrick Wilson) é colocada em dúvida – na tentativa de nos fazer lembrar que são humanos. “Hellboy” traz heróis com problemas de relacionamento com um pouco mais de naturalidade. Como se isso não bastasse, a seleção musical, que vai de “Unforgettable” a “Hallelujah” (a mesma usada em “Shrek”), torna algumas cenas irritantes.

O filme começa com o assassinato do Edward Blake (Jeffrey Dean Morgan), conhecido como o Comediante, um dos membros do Watchmen, um grupo de vigilantes criado nos anos 1940 para combater gangues que atacavam usando máscaras que dificultavam a identificação dos bandidos. Como uma brincadeira de criança, os vigilantes, membros da polícia, resolvem se unir e defender a cidade também fantasiados.

Com a Guerra Fria e um fictício governo Nixon – olha ele de novo – como pano de fundo, a história tenta apelar para um niilismo que não convence, a não ser pelo desempenho de James Earle Haley, o Rorschach. Afinal, como já sabemos como termina o conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética, o plano executado por Ozymandias (Matthew Goode), o homem mais inteligente do mundo, que acabaria de uma vez com todas as possibilidades de uma guerra nuclear, parece estúpido e infantil. Cheio de clichês do gênero, como o questionamento se cabe a eles ou não salvar o mundo ou ainda heróis-aposentados-que-voltam-à-ativa (o que “Os Incríveis” faz bem melhor), “Watchmen” acaba com uma referência explícita ao 11 de setembro, o que também já deu o que tinha que dar. Como diz o Comdeiante, é uma grande piada. Pena que muito sem graça.

FICHA TÉCNICA

Título: "Watchmen – O Filme"
Título original: Watchmen
País: EUA
Ano: 2009
Direção: Zack Snyder
Roteiro: David Hayter e Alex Tse, baseado em HQ de Alan Moore e Dave Gibbons
Elenco principal: Patrick Wilson, Jeffrey Dean Morgan, Billy Crudup, Matthew Goode, Carla Gugino, James Earle Haley.
Duração: 163 min.
Gênero: Ação
Sinopse: Ambientado numa realidade fictícia norte-americana nos anos 80, um grupo de super-heróis aposentados começa a ter sua vida ameaçada. Rorschach (Jackie Earle Haley), detetive que usa uma máscara desfigurada, e o Coruja (Patrick Wilson) passam a investigar a identidade do vilão antes que suas próprias vidas corram perigo.
Estréia: 6 de março de 2009

terça-feira, 3 de março de 2009

Nazismo sob uma nova ótica

O diretor britânico Stephen Daldry é uma das poucas unanimidades entre os membros da Academia. Pela direção de seu terceiro longa-metragem, Daldry conseguiu sua terceira indicação ao Oscar. A estatueta de melhor diretor foi para Danny Boyle, diretor de “Quem quer ser um milionário?”, mas, se a tendência permanecer, Daldry em breve também deve ser coroado.

O desafio em “O leitor” (“The reader”, no original), baseado no livro de Bernhard Schlink, era superar os ótimos trabalhos realizados em “Billy Elliot”, de 2000, e “As Horas”, de 2002. Porém, a direção segura não corrige alguns problemas no roteiro, que, para piorar, são corroborados pela edição. A história se passa na Alemanha pós-nazismo, quando o jovem Michael Berg conhece uma mulher mais velha, Hanna Schmitz, vivida por Kate Winslet, que durante os encontros amorosos, pedia para Michael ler algumas histórias.

O relacionamento entre os dois, que no início, parece imoral, aos poucos, vai se diluindo e descobrimos os motivos que o levam a mantê-lo. Michael, um adolescente contido, preso a uma estrutura familiar conservadora – repare que a família de Michael só aparece sentada a uma mesa de jantar formalmente estruturada, conservada até mesmo muitos anos depois – encontrou em Hanna uma maneira de se descobrir como homem, e fica encantado com as possibilidades do sexo. Tanto que ao ler para Hanna uma história erótica, exagera no tom e é imediatamente reprimido por ela, que se sente envergonhada. Hanna, por sua vez, condenada a uma existência medíocre, vivendo como funcionária de uma operadora de trens, encontra alguma realização ao conhecer um jovem talvez mais infeliz que ela mesma.

Até que os dois perdem o contato, e o garoto, incapaz de esquecer o passado, passa a conviver com o vazio deixado pelo fim do relacionamento, que perdura até se tornar um advogado amargurado e frustrado, interpretado pelo talentoso Ralph Fiennes. Na faculdade de Direito, Michael é levado pelo professor a um julgamento de guardas nazistas da SS. Ao descobrir que Hanna é a ré principal, o jovem ator David Kross nos faz sentir a impacto da revelação surpreendente. Com o desenrolar do processo, Michael descobre uma forma de inocentar Hanna, porém, teria que revelar um segredo que Hanna parecia querer manter.

Justamente ao tentar “esconder” o segredo de Hanna, o filme peca. Quando o segredo é revelado, a intenção soa redundante, já que desde o primeiro momento sabemos o que ela tenta esconder, justamente porque Daldry dirige tão bem seus atores que, sem querer, acaba revelando o que queria guardar para mais tarde. Por outro lado, não fica claro de que forma Michael poderia ajudar no julgamento de Hanna, ao revelar o tal “segredo”. Apenas um detalhe seria modificado no processo, mas não impediria a condenação de Hanna, que assume sem medo tudo que fez, pois estava convencida de que não tinha como ter sido diferente.

Mesmo assim, como em seus dois primeiros filmes, Stephen Daldry, que já dirigiu pesos pesados como Julie Walters, Julianne Moore, Nicole Kidman e Meryl Streep - em papéis que renderam indicações ao Oscar para as duas primeiras e uma vitória para Kidman pelo papel em “As Horas” - prova que sabe como trabalhar com personalidades fortes e complexas, herança de sua vasta experiência no teatro, para o qual já produziu mais de cem peças. Kate Winslet, que finalmente conquistou a sonhada estatueta depois de cinco indicações, demonstra um amadurecimento como atriz, mas não está em seu melhor papel. E precisa ter cuidado para não ficar marcada pela nudez nas telas, o que também acontece em “Titanic”, “Contos proibidos de Marquês de Sade”, “Íris” e “Pecados íntimos”.

O grande mérito do filme é não tratar o nazismo de maneira maniqueísta, mas tentar traduzir, pelas palavras de Hanna Schmitz, os motivos que levaram à omissão daqueles que trabalharam para a ditadura de Hitler. De certa maneira, o filme questiona o tratamento dado a réus como Hanna. Os julgamentos, na verdade, serviam apenas como uma tentativa de o país se redimir perante o mundo mostrando que está punindo os “responsáveis” pelo Holocausto. Acusada de deixar morrer um grupo de 300 judeus, Hanna já entra no tribunal condenada. Afinal, quem vai defender um guarda de campo de concentração nazista? Mas, apesar dessa nova abordagem, “O leitor” peca pelo excesso no tom melodramático de algumas cenas, que deixam o filme um nível abaixo de outros que também abordam o nazismo na Alemanha.

Uma curiosidade mórbida: “O leitor” foi a última produção de Anthony Minghella e Sydney Pollack. Ambos faleceram antes da estreia do longa.


FICHA TÉCNICA

Título: "O leitor”
Título original: The reader
País: EUA/Alemanha
Ano: 2008
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: David Hare, baseado baseado no romance de Bernhard Schlink
Elenco principal: Kate Winslet, Ralph Fiennes, Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara, David Kross.
Duração: 124 min.
Gênero: Drama
Sinopse: Michael (David Kross na juventude e Ralph Fiennes na idade adulta) relembra aquele que, provavelmente, foi o momento definitivo de sua vida - quando seu amor juvenil, uma mulher mais velha chamada Hanna Schmitz (Kate Winslet), foi presa e julgada pelos nazistas. O que o jovem verá no tribunal é algo que vai de encontro a tudo aquilo em que ele acredita.
Estréia: 06 de fevereiro de 2009.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Oscar 2009: sem surpresas entre os vencedores

Quase acertei todas esse ano, hein? Foram apenas quatro erros de categorias complicadas mesmo. E ainda sim, em duas delas, passei bem perto.

Efeitos visuais
Meu voto: "Batman - O cavaleiro das trevas"
Vencedor: "O curioso caso de Benjamin Button"

Nas minhas primeiras apostas, "Benjamin Button" levava essa categoria, mas acabei preferindo "Batman", bem em cima da hora.

Canção original
Meu voto: "O...Saya", de "Quem quer ser um milionário?"
Vencedor: "Jai ho", de "Quem quer ser um milionário?"

Errei a canção, mas acertei o filme! rs Meio ponto né? Mas já que era para dar o prêmio a "Quem quer ser um milionário?", acredito que "O...Saya" fosse melhor que "Jai ho".

Mixagem de som
Meu voto: "Batman - O cavaleiro das trevas"
Vencedor: "Quem quer ser um milionário?"

Tiro totalmente no escuro! Não tinha visto quem o sindicato dos profissionais de som tinha premiado, portanto, dei mole.

Filme em língua estrangeira
Meu voto: "The class", da França
Vencedor: "Departures", do Japão

Minha única certeza aqui era que "Valsa com Bashir", tido como favorito, não ia levar. Nenhum favorito tem levado essa categoria nos últimos anos. Foi assim em 2007, quando o mexicano "O labirinto do fauno" perdeu para o alemão "A vida dos outros"; em 2006, com a vitória do sul-africano "Infância roubada" sobre o palestino "Paradise now"; e em 2003, o caso mais ilustrativo, quando eram favoritos o mexicano "O crime do Padre Amaro" e o chinês "Herói", mas Oscar acabou ficando com o alemão "Lugar nenhum na África". Desta vez, foi o japonês "Departures" que levou a melhor sobre o vencedor de Cannes (meu único parâmetro para votar nele), "Entre les murs" ("The class", em inglês).

Mas o fato de eu acertar as outras categorias, não diz muita coisa sobre minha capacidade de avaliar os filmes, mas diz sobre a previsibilidade dos vencedores. Depois de uma enxurrada de premiações como o Globo de Ouro, o Bafta (o Oscar britânico) e os prêmios distribuídos pelos sindicatos da cada categoria, fica quase impossível errar os vencedores das principais categorias do Oscar.

Como a maior parte dos membros da Academia é composta por atores e atrizes, o prêmio do SAG, o sindicato dos atores, é o mais representativo da temporada pré-Oscar. O Globo de Ouro, considerado por muitos como a prévia do Oscar, é distribuído pelos jornalistas estrangeiros que trabalham em Hollywood, portanto, não diz muita coisa sobre o que esperar do Oscar, na minha opinião, já que nenhum membro da Academia é jornalista, muito menos estrangeiro.

Para se ter uma idéia, o prêmio de melhor ator dramático no Globo de Ouro ficou para Mickey Rourke, pelo papel em "O lutador", e o Oscar ficou para Sean Penn, por "Milk - A voz da igualdade", que também venceu o SAG Awards.

Os prêmios vencidos por "Quem quer ser um milionário?" também já eram esperados, até porque o filme ganhou TODOS os prêmios de melhor filme que antecederam o Oscar. Quantos às categorias técnicas, pode-se até discutir alguma coisa (os prêmios de trilha sonora e canção, por exemplo, podem ter sido incentivados pelo clima de oba-oba em torno do filme), mas o filme de Danny Boyle é tecnicamente bem feito mesmo. Azar de "O curioso caso de Benjamin Button", que, com 13 indicações, levou apenas prêmios de arte (direção de arte, maquiagem e efeitos visuais). E já foi de bom de tamanho!

Das principais, a categoria mais complicada de acertar foi a de atriz coadjuvante, e por uma questão burocrática. Kate Winslet disputou a maioria dos prêmios pré-Oscar nas categorias de atriz principal e atriz coadjuvante, por "Foi apenas um sonho" e "O leitor", respectivamente. Em todas as premiações em que concorreu com "O leitor", levou a categoria de atriz coadjuvante. Mas no Oscar, foi indicada como atriz principal pelo mesmo filme e levou a estatueta. Logo, a categoria que premiaria a atriz codjuvante abria espaço para outras atrizes, como Amy Adams, Viola Davis e Penélope Cruz. A espanhola acabou levando a melhor.



Sem muitas supresas, portanto, o grande destaque da noite, além dos 8 Oscars de "Quem quer ser um milionário?", foi a cerimônia em si, que foi muito bem produzida (ao contrário da edição insossa do ano passado), e Hugh Jackman, que dominou o palco. Estava à vontade, conversava e brincava com os atores na primeira fila (até sentou no colo de Frank Langella!), cantou, dançou, fez piada, enfim, completo. Jackman surpreendeu, mostrando diversas facetas que podem até lhe render trabalhos diferentes, e não apenas o de galã ou de herói brutamontes. Quem sabe um musical de Baz Luhrmann, já que os dois trabalharam juntos em "Austrália" e ainda em um número musical apresentado no Oscar?

Portanto, no ano que vem, fica a dica, bem prática e com muitas chances de acerto. Quem quiser ganhar um bolão, não deixe de ver quem os sindicatos de cada cetagoria premiou, principalmente o dos atores.

Um abraço e até a próxima!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Apostas para o Oscar

"Eu não gosto dos G.R.E.S. / Mas em fevereiro / Tenho que suportar os G.R.E.S. / O carnaval / Com seu espírito de festa / Suas cabrochas na avenida, churrasquinho podro / É uma imposição absurda".

Bem, esse ano vai ser diferente. Não teremos que suportar os G.R.E.S., ao contrário do que diz essa musiquinha do Pato Fu. Para os que não curtem o carnaval como eu, a cerimônia do Oscar no próximo dia 22 surge como a melhor alternativa para os tamborins da Sapucaí.

E tanta expectativa (pelo menos para os cinéfilos) torna inevitável as saudáveis e polêmicas apostas em quem vai ganhar cada categoria. Eu, claro, não pude deixar de fazer as minhas. Minha listinha, com alguns breves comentários, segue abaixo.

Quem quiser brincar também, levanta a mão!

Melhor Filme: Quem Quer Ser um Milionário?

O filme ganhou todos os prêmio de melhor filme (e correspondentes) da temporada, um feito raro. Dificilmente não levará o prêmio da Academia. E realmente, é o melhor dos cinco.

Melhor Ator: Sean Penn - Milk - A Voz da Igualdade

O disputa pelo prêmio está entre Sean Penn (Milk) e Mickey Rourke (O lutador). Acho que o Penn leva porque a transformação é mais visível, e a Academia gosta disso. Além disso, Rourke não é muito bem visto pelos colegas e isso pode pesar, por mais que seu papel esteja sendo considerado como a "reviravolta" de sua carreira.

Melhor Atriz: Kate Winslet - O Leitor

Não é o melhor papel da carreira de Kate Winslet, mas, infelizmente, é por ele que ela vai ganhar o Oscar, corrigindo injustiças como em 2005, em que perdeu para Hilary Swank. E ainda está em outro papel elogiado, em "Foi apenas um sonho". Acredito que só Anne Hathaway ofereça algum perigo, como no ano em que Halle Berry ganhou de Nicole Kidman, mas em 2009, a vez é de Kate mesmo.

Melhor Ator Coadjuvante: Heath Ledger - Batman - O Cavaleiro das Trevas

Indiscutivelmente o melhor dos concorrentes. Não tem pra ninguém. Ledger foi o ator do ano, mesmo morto. Vai ganhar e vai ser muito merecido.

Melhor Atriz Coadjuvante: Penelope Cruz - Vicky Cristina Barcelona

Pra mim, a categoria mais difícil de apostar, porque nas outras premiações, quem levou tudo foi Kate Winslet, por "O leitor", mas aqui o papel lhe rendeu uma indicação como atriz principal. Sendo assim, Penelope Cruz tem muitas chances, pois fez um trabalho marcante. Mas as atrizes de "Dúvida" podem ser sair melhor e esse pode ser o prêmio de consolação do ótimo filme. Se pudesse, também apostaria em Amy Adams.

Melhor Diretor: Danny Boyle - Quem Quer ser um Milionário?

Direção impecável e precisa. Danny Boyle fez o melhor filme de sua carreira. Quanto aos outros candidatos, só destacaria Ron Howard, por "Frost/Nixon", mas vejo o trabalho do roteirista Peter Morgan muito mais presente que o dele. Stephen Daldry, pela terceira vez, vai ficar como coadjuvante, apesar de sempre ótimo. David Fincher e Gus Van Sant só cumpriram o protocolo em seus filmes. Logo, impossível Boyle não levar, ainda mais trabalhando com atores novatos. Só espero não ser surpreendido.

Melhor Roteiro Original: Milk - A Voz da Igualdade, de Dustin Lance Black

Não acho que seja o melhor roteiro. "Wall-E" é muito mais interessante. Um roteiro com poucos diálogos é um trabalho muito mais difícil. Mas, pode ser um prêmio de consolação ao filme, caso não ganhe o de melhor ator.

Melhor Roteiro Adaptado: Quem Quer ser um Milionário?, de Simon Beaufoy

Já perceberam que virei fã do filme, certo? Mas não é só por isso. O filme tem um texto bom, eficaz, dinâmico. E também foi muito premiado.

Melhor Filme em Língua Estrangeira: The Class (França)

Acho complicado a Academia premiar o israelense "Valsa com Bashir". Pode soar como se estivessem a favor do país, ainda mais que, na época da votação, o conflito na Faixa de Gaza estava no auge. Logo, o vencedor de Cannes dispara como favorito.

Melhor Longa-metragem de Animação: WALL•E

Não vi as outras animações, mas "Kung Fu Panda" venceu um dos indicadores para o Oscar, um tal Annie Awards. Pode ser um perigo, como quando "Happy Feet" venceu "Carros", também da Pixar. A diferença é que Wall-E tem uma indicação de melhor roteiro original, e todas as animações que também tinham essa indicação ganharam essa categoria. Espero que isso se mantenha, pois torço para ele.

Confesso que os votos em categorias técnicas são quase sempre um chute mesmo, mas em algumas podemos observar uma certa tendência, como em melhor figurino.

Melhor Fotografia: Quem Quer Ser um Milionário?

Pode perder para "Benjamin Button". Mas adorei a iluminação na cena da fuga dos meninos! Além disso, ganhou o prêmio do sindicato dos fotógrafos. E torço para que "Benjamin Button" saia de mãos abanando...

Melhor Maquiagem: O Curioso Caso de Benjamin Button

É só o que o filme merece ganhar. E tenho dito.

Melhor Direção de Arte: O Curioso Caso de Benjamin Button

Tudo bem, até que merece esse aqui também, vai. Mas ainda preferia que "Batman" ganhasse aqui.

Melhor Figurino: A Duquesa

Nos últimos anos, a Academia tem premiado figurinos de época, como os de "Maria Antonieta" e "Elizabeth - A Era de Ouro". Deve seguir a tendência.

Melhor Edição: Quem Quer Ser um Milionário?

O filme foi editado com muita inteligência, pois conseguiu driblar algumas armadilhas do roteiro e tornou o filme dinâmico e surpreendente. Gosto da edição de "Frost/Nixon", mas não chega a desbancar a de " Quem Quer Ser um Milionário?". Aposto todas as minhas fichas nele.

Melhor Trilha Sonora: Quem Quer Ser um Milionário?

Acho que vai ganhar só pela euforia em torno do filme. Por outro lado, Thomas Newman, compositor da trilha sonora de "Wall-E", na sua 10ª indicação, sem vencer, pode ser recompensado dessa vez.

Melhores Efeitos Visuais: Batman - O Cavaleiro das Trevas

Como tem oito indicações, deve levar os principais prêmios técnicos, também como consolação.

Melhor Canção Original: "O Saya", Quem Quer Ser um Milionário?

Acho sim que é a melhor música, a que melhor representa o momento do filme. E como nessa categoria a Academia andou premiando algumas canções pouco convencionais, o que inclui dois raps e uma canção irlandesa, a canção indiana tem chances.

Melhor Edição de Som: Batman - O Cavaleiro das Trevas

Melhor Mixagem de Som: Batman - O Cavaleiro das Trevas

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Duelo de titãs

Com cinco indicações ao Oscar, sendo quatro delas para atores, “Dúvida”, do desconhecido John Patrick Shanley, se desenvolve a partir de, justamente, uma grande desconfiança: teria o padre Flynn (vivido pelo premiado Philip Seymour Hoffman) aliciado ou não o menino Donald Miller? A “dúvida” do título é despertada pela inocente Irmã James (personagem da ótima Amy Adams, uma das promessas surgida nesse século), que observa um comportamento estranho em um de seus alunos, o jovem Miller, também um dos coroinhas da paróquia, depois que ele retorna de uma conversa com o padre. James, mesmo sem nenhuma prova concreta, imediatamente comunica a suspeita para irmã Aloysius (a sempre perfeita Meryl Streep), diretora da instituição.

O duelo entre padre Flynn e a irmã Aloysius é o fio condutor da história, despertado pela tal dúvida do filme. Enquanto a irmã dirigia com pulso firme a escola católica, tentando manter a ordem e a disciplina a qualquer custo, mas o padre representava a modernização da Igreja, a mudança, que não era bem recebida pela diretora. É interessante observar como os dois chegam a disputar a cadeira da sala da direção. Aloysius não aceitava estar a um nível hierárquico abaixo do padre e a ele ter que responder. Além disso, Flynn era invejado pela irmã Aloysius, pois enquanto ele mantinha missas lotadas, fiéis atentos e alunos que o admiravam, graças ao carisma e compaixão, ela era temida por todos. E isso, no fundo, a incomodava. A suspeita levantada foi, na verdade, o pretexto de que Aloysius precisava para inciar a perseguição ao sacerdote, até fazê-lo desistir de suas obrigações naquela paróquia.
Com um elenco marcante, encabeçado por Meryl Streep, “Dúvida” é um filme poderoso que se sustenta pela força das atuações, assim como “Closer – Perto Demais”, de Mike Nichols, em 2004. Fato raro é ver um elenco tão afiado. Até mesmo a coadjuvante Viola Davis, que interpreta a mãe de Miller, em apenas uma cena, mostra do que o elenco, principal trunfo do longa, é capaz de fazer com um texto não menos soberbo.

Como na escola literária barroca, o roteiro abusa das relações paradoxais entre verdade e mentira, dúvida e certeza, bem e mal, e somos levados a acreditar em (pseudo) fatos e argumentos que ora nos fazem apostar na inocência do padre e ora nos fazem duvidar dela. Não espere muitas respostas no longa, que explora as possibilidades para uma resposta negativa ou afirmativa para a principal questão. Os diálogos, apesar de longos, não cansam, graças à riqueza do texto - destacaria a conversa particular entre o padre Flynn e a irmã Aloysius (Streep), que assume sem pudores algumas de suas atitudes em busca da “verdade” - e às interpretações irretocáveis. Alguns dos poucos problemas do filme talvez seja um certo maniqueísmo na construção das personagens principais e a direção imatura de Shanley que força planos inusitados que chegam a cansar um pouco, mas não comprometem a qualidade do filme.


FICHA TÉCNICA

Título: "Dúvida”
Título original: Doubt
País: EUA
Ano: 2008
Direção: John Patrick Shanley
Roteiro: John Patrick Shanley, baseado em peça de sua própria autoria
Elenco principal: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis.
Duração: 119 min.
Gênero: Drama
Sinopse: A história é ambientada no ano de 1964, em uma escola católica no Bronx (Nova York), onde a diretora (Meryl Streep) é uma dura freira que acusa publicamente de pedofilia um padre popular (Philip Seymour Hoffman). O filme aborda as questões de religião, autoridade e moralidade.
Estréia: 06 de fevereiro de 2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Bastardos inglórios

Na França ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra, um grupo de soldados judeus americanos tem como missão espalhar o terror pelo Terceiro Reich.

Essa é, basicamente, a sinopse do novo filme do Quentin Tarantino. Promissor, não?

Assista abaixo ao trailer do filme:

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Rua de ilusões

Repetindo a parceria precoce em “Titanic”, Leonardo DiCaprio e Kate Winslet estrelam o drama “Foi Apenas um Sonho”. Apesar de hoje serem equivalentes em maturidade física e artística, o que não acontecia no filme de 12 anos atrás, DiCaprio e Winslet parecem não estar à vontade com a nova oportunidade de trabalharem juntos. Com atuações superficias, exageram nos gritos e nas gesticulações, como vemos logo na segunda sequencia do filme, em que Frank tenta consolar April pelo fracasso como atriz e os dois acabam brigando à beira da estrada.

O diretor Sam Mendes repete a temática de seu maior sucesso, “Beleza Americana”: o american way of life dos subúrbios norte-americanos. Só que dessa vez, Mendes é menos sutil, e extravasa a revolta com o tédio e a melancolia dos condomínios e casas pré-moldadas típicos. Em “Revolutionary Road” (no original), os protagonistas assumem que a vida nos subúrbios é uma vida pela metade, em que as pessoas se acomodam naquele conforto e ilusão de segurança com medo de enfrentar novas experiências e assim, quem sabe, ser feliz de verdade.

Ao perceber que levava uma vida medíocre, April Wheeler, o papel que rendeu o Globo de Ouro à Kate Winslet, propõe ao marido que a família se mude para Paris. Frank, o marido vivido por DiCaprio, apesar de um pouco hesitante, aceita a proposta. A decisão é motivo de deboche daqueles com quem o casal convive. Na verdade, estão todos tão dependentes daquela realidade que não acreditam ser possível passar por uma mudança tão radical. O casal de amigos dos Wheeler é exemplo disso. Muito mais cúmplices um do outro que os protagonistas - o casal vizinho se comunicava só pelo olhar - acreditava que aquela realidade, por pior que fosse, era a melhor alternativa. E o choro da mulher logo depois de ouvir que April e Frank iriam para Paris demonstra que a vontade de mudar já existiu, mas foi sempre preterida.

O roteiro é promissor, porém, não deslancha. Enquanto a emotiva April não pertencia àquele lugar e, impossibilitada de fugir daquilo, só tinha mesmo o destino que lhe aguarda no final, Frank, que também procurava meios de fugir da realidade (com outra mulher, por exemplo), era mais racional. Ao perceber que a ideia de se mudar para Paris era menos tentadora do que ser promovido no trabalho, desiste e provoca um colapso na mulher. Porém, o roteiro frágil e pouco dinâmico não desenvolve os motivos da infelicidade do casal naquele lugar. Só conseguimos entender quando o lunático vivido por Michael Shannon - que rouba as duas cenas em que aparece - coloca todos os pingos nos is.

A trilha sonora de Thomas Newman, que já havia trabalhado com Mendes em “Beleza Americana”, tem o talento de compor trilhas que permanecem na mente mesmo após a projeção. Assim como no longa de 2000, aqui, Newman nos proporciona uma trilha que, apesar de pouco criativa, dá o tom certo à narrativa. Falta de criatividade também marca a direção de Mendes, que opta por planos muitas vezes tão óbvios que irritam. Fica a sensação de que, assim como o casal Wheeler, o filme ainda está tentando se encontrar.

FICHA TÉCNICA

Título: "Foi apenas um sonho”
Título original: Revolutionary Road
País: EUA/Austrália
Ano: 2008
Direção: Sam Mendes
Roteiro: Justin Haythe, baseado em livro de Richard Yates
Elenco principal: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Kathy Bates, Michael Shannon.
Duração: 119 min.
Gênero: Drama
Sinopse: April (Kate Winslet) e Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) são um casal jovem que vive no subúrbio de Connecticut com seus dois filhos na década de 1950. A máscara da auto-segurança esconde a enorme frustração que sentem por não serem completos em seu relacionamento ou na carreira. Determinados a conhecerem a si mesmos, eles decidem se mudar para a França. Mas o relacionamento começa a corroer em um ciclo infinito de brigas, ciúmes e recriminações, e a viagem e seus sonhos correm grandes riscos de acabar.
Estréia: 30 de janeiro de 2009.