sábado, 18 de julho de 2009

Equilíbrio de forças

“Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, o filme mais esperado dos últimos 11 meses, finalmente chegou aos cinemas essa semana. O filme, que em agosto do ano passado teve a estréia adiada de 21 de novembro de 2008 para o dia 15 deste mês, irritando a maioria dos fãs (inclusive eu), já arrecadou mais de 100 milhões de dólares em apenas um dia, uma quarta-feira.

Dizer que a expectativa era enorme pode parecer redundante, mas não é exagero, pois tudo em se tratando do jovem bruxo de J.K. Rowling é grandioso. Além de ser uma das sagas de maior sucesso no mundo, que mantém todos os filmes até este na lista das 30 maiores bilheterias de todos os tempos, em “O Enigma do Príncipe” vamos desvendar o passado de Lord Voldemort, mas também ver Harry perder uma pessoa muito querida e próxima, em um dos momentos mais emocionantes de toda a série.

Depois da morte do padrinho Sirius Black, em “A Ordem da Fênix”, Harry mal tem tempo de se recuperar da dor da perda do único familiar ainda vivo e é designado por Dumbledore a cumprir uma delicada tarefa. Harry tem que se aproximar do novo professor de Poções, Horácio Slughorn, para arrancar dele uma importante memória sobre o passado de Voldemort. Ao mesmo tempo e do outro lado, Draco Malfoy também é incumbido de uma grande missão. Enquanto tenta descobrir o que o Professor Slughorn parece esconder com tanto afinco, Harry embarca em uma jornada pelas memórias de Dumbledore sobre Tom Riddle, ou seja, você sabe quem.

Os primeiros dez minutos do longa funcionam como um prefácio do que está por vir: o filme mais sombrio da saga e uma explosão de hormônios adolescentes. O diretor David Yates dá destaque aos conflitos de relacionamento entre os jovens bruxos, o que torna o filme e até nosso próprio herói mais humanos, pois se mostram ciumentos, invejosos, inseguros e um pouco malandros também. Até Dumbledore parece mais à vontade em lidar com a libido adolescente e chega a perguntar a Harry se existe alguma coisa entre ele e Hermione. Impagável!

O roteiro enxuto poupa o espectador de explicações, apesar de dar mais atenção aos diálogos que os filmes anteriores. Sendo um livro de transição, em que se aguarda o momento da grande batalha entre Lord Voldemort e Harry Potter, a autora foi obrigada a tentar desatar alguns nós, e utiliza do clássico recurso do flashback, que também é incorporado ao filme. Porém, o livro acaba se tornando um pouco cansativo, o que não acontece com o filme, que flui melhor. Yates optou por apenas três flashbacks (sendo dois sobre o mesmo momento), que eram os mais importantes, e ainda acrescentou uma das melhores cenas de ação da saga, que não constava no livro, para dar mais dinamismo ao filme.

Algumas personagens ganham mais destaque, como Draco Malfoy e Gina Weasley, assim como as pitadas de humor, que, por incrível que pareçam, são protagonizadas também por Harry - é ótimo ver como Daniel Radcliffe amadureceu profissionalmente, principalmente quando Harry está sob efeito da poção Félix Felicis - e não apenas pelo amigo trapalhão Rony Weasley. Aliás, os caçulas da família Weasley, Gina e Rony, se mostram cada vez mais inteligentes e populares na escola. A vitória no quadribol, que está de volta nesse episódio da série, lhe rende até uma namorada! Já Harry se mostra mais maduro, obediente e menos revoltado que no último filme, pois parece aceitar a difícil tarefa que lhe foi imposta na guerra contra o Lord das Trevas. Mas, como todo adolescente, tenta tirar proveito das vantagens que a vida proporciona, ao tentar chamar a atenção de uma garota na escola ou mesmo colando de um misterioso livro usado nas aulas de Poções.

A propósito, a história do Príncipe Mestiço (o “half-blood Prince” do título), o dono misterioso do livro que Harry usa na aula de Poções, passa batida, mas justifica-se, pois a prioridade de Yates no longa é preparar o campo para a próxima fase da história, e para isso precisava dar atenção à relação entre Dumbledore e Harry, aos flahsbacks que explicam a origem de Voldemort e ao amadurecimento de toda a turma.

Porém, como nem tudo é perfeito, David Yates peca em alguns momentos, mas nada que comprometa sua qualidade, já que o diretor se mostrou o melhor da série, ao equilibrar corretamente os diálogos e as cenas de ação. Os fãs mais fervorosos podem sentir falta da família Dursley (se é que é possível), de Fleur DeLacour ou do novo ministro da magia, Rufo Scrimgeour, que estão na obra original. Mas talvez a cena em que os Comensais da Morte invadem Hogwarts tenha sido a mais prejudicada. Um dos momentos mais tensos do livro, a sequência começa mantendo a euforia, principalmente pela edição que mescla o encontro entre Malfoy e Dumbledore e a chegada dos comensais pelo Armário Sumidouro, mas depois esfria, pois a tão aguardada luta entre alunos, professores e os comensais foi omitida no filme.

Se aqui ele pecou pela falta, em outro momento, peca pelo excesso. Na cena em que Harry conhece o professor Horácio Slughorn, o rapaz fica deslumbrado com a magia usada por Dumbledore para arrumar a casa, o que, na idade dele e depois de tudo que passou, não é verossímil. A direção de arte, sempre fiel ao universo de J.K Rowling, também comete uma pequena falha: observe que o orfanato em que Tom Riddle vivia quando criança, por exemplo, se parece com o Departamento de Mistérios do Ministério da Magia, no filme de 2007. Mas acerta em cheio ao mostrar, no Beco Diagonal, o contraste entre a loja dos gêmeos Weasley e o abandono das outras. Já a fotografia aproveita que o filme é mesclado de momentos sombrios e eufóricos para variar também no uso de luz e cores. Nos flashbacks na penseira de Dumbledore, observa-se o predomínio da cor verde, que é a cor da Sonserina, ou seja, nada mais apropriado já que se falava de Voldemort. Nos momentos descontraídos opta por cores quentes e já nos sombrios predominam tons mais escuros e monocromáticos, endossado pelas paisagens sempre desertas e o tempo nublado. Parecem escolhas óbvias (e realmente são), mas cumprem o papel de maneira eficiente.

Tão gostoso de se ver é também o trabalho dos atores. Daniel Radcliffe prova que amadureceu como ator e mostra um trabalho se não brilhante, pelo menos competente. Não se pode culpá-lo, afinal, o brilho é mesmo dos veteranos e fica difícil competir com eles. A vantagem de ter atores tão experientes como Alan Rickman, Michael Gambon, Helena Bonham Carter ou Jim Broadebent no elenco é proporcionar ao espectador atuações inspiradas mesmo em um filme tão comercial. A cena do embate entre Snape e Dumbledore, por exemplo, fica ainda melhor que no livro graças às expressões de seus atores, Rickman e Gambon. A personalidade de Snape deixa o espectador sempre com um pé atrás, mas, desta vez, é justamente o contrário: Rickman e Gambon nos fazem acreditar que alguma coisa está errada com aquilo tudo. Destaque também para a caracterização de Dumbledore, que parece realmente ter envelhecido alguns anos do último filme para cá. Pra reforçar, Gambon interpreta um diretor que parece sempre cansado e mais fraco, o que justifica o fato de que todos temem pelo tempo que Dumbledore vai conseguir aguentar. Certo mesmo é que os fãs vão ter que agüentar pelo menos mais um ano para ver o início da conclusão da série, já que o último livro foi desmembrado em dois filmes. Pelo menos, dessa vez, valeu a pena esperar.

FICHA TÉCNICA

Título: "Harry Potter e o Enigma do Príncipe"
Título original: Harry Potter and the Half-Blood Prince
País: EUA/Reino Unido
Ano: 2008
Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves
Elenco principal: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Julie Walters, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Bonnie Wright, Jessie Cave, Tom Felton, Jim Broadbent, Maggie Smith, Michael Gambon, Evanna Lynch.
Duração: 153 min.
Gênero: Aventura
Sinopse: Harry Potter (Daniel Radcliffe) suspeita de perigos que se aproximam, enquanto o diretor da escola, Dumbledore (Michael Gambon), já pensa na batalha final, que ele sabe que está por vir. Juntos, descobrem uma forma para se defenderem de Voldemort (Ralph Fiennes), que aparece cada vez mais perigoso, impedindo a segurança de Hogwarts. Dumbledore contrata seu antigo amigo, o Professor Horácio Slughorn (Jim Broadbent), pois acredita que ele tenha informações cruciais para ajudá-lo. Além dos perigos que rondam a escola, os adolescentes estão com os hormônios a flor da pele, o que promete muito romance no ar.
Estreia: 15 de julho de 2009

Um comentário:

  1. Fiquei meio com vergonha alheia na cena em q a namoradinha do Rony vai ver se ele está bem na enfermaria.

    O plano pega ela na cama e Alan Rickman, Jim Broadbent e Michael Gambon em segundo plano olhando a menina. Que medo! Ela falando coisas como "Uon-Uon" na frente deles. rsrsr Tem q ter coragem...

    ResponderExcluir