segunda-feira, 13 de julho de 2009

Muita pretensão

Atenção! Este texto contém spoilers. Mas em se tratando de “Transformers: A Vingança dos Derrotados”, isso não é problema. Cada passo dos protagonistas Sam, Mikaela e dos barulhentos robôs é tão previsível que acho difícil contar aqui algo que até mesmo um espectador de 11 anos não consiga prever durante a projeção.

A sequência do filme de 2007, com que este blog é até simpático, começa com um flashback de quase 20.000 anos. Retornando aos tempos pré-históricos, descobrimos que os Decepticons já haviam estado na Terra e travado aqui uma grande batalha. No fim da guerra, uma poderosa fonte de energia para os robôs alienígenas – chamada de Matriz – é escondida pelos robôs bonzinhos, para evitar a destruição de planetas, inclusive a da própria Terra. Já no tempo presente, os Decepticons decidem retornar ao nosso território para justamente procurar essa fonte de energia. Mas para encontrá-la, eles precisam de Sam (Shia LaBeouf), que, acidentalmente, absorveu em sua mente o mapa que pode indicar a localização exata da Matriz, o que vai provocar uma nova guerra entre os Decepticons e os Autobots.

O roteiro pobre (e muitas vezes, incoerente) de Ehren Kruger, Roberto Orci e Alex Kurtzman os fazem parecer amadores, o que é surpreendente, pois os dois últimos já assinaram filmes de ação de alto nível, como “Star Trek” e “Missão: Impossível 3”, ambos do cultuado J.J. Abrams. O texto do trio opta por caminhos mais fáceis para resolver problemas, como quando o grupo do bem encontra a tumba dos Prime, uma espécie de linhagem real de robôs, ou quando os Decepticons interceptam o satélite de comunicação dos Estados Unidos, o que permite com que eles descubram onde os militares mantinham o Megatron adormecido. Ou ainda quando o Fallen, o patriarca dos Decepticons, repete que quem só pode derrotá-lo é um robô Prime, ou seja, para que o espectador aceite a derrota dos maus no final (ih, contei!), mesmo sabendo que o arsenal dos mauzinhos é infinitamente superior. E por aí vai.

A narração que inicia e conclui a história tenta dar um espírito épico à narrativa, mas exagera no tom messiânico, que beira o ridículo. De épico mesmo, só as duas horas e meia de duração (que poderiam facilmente virar somente duas). Momento igualmente patético é a 'ressurreição' de Sam. Fico imaginando onde seria o céu dos robôs. O filme também não encontra o tom na caracterização dos robôs, que se mostram humanos demais em momentos dispensáveis como quando um deles diz sentir o ‘cheiro’ do inimigo, ou o linguajar dos robôs-gêmeos, que imita, de forma estereotipada, o de afro-descendentes americanos.

A infinidade de clichês cansa e dá até pena, como a cena em que Mikaela aguarda contato de Sam pela webcam, em seu primeiro dia na universidade, ou quando ela chega no campus e flagra o namorado com outra na cama, mesmo sendo essa outra uma alienígena que é uma mistura da ciborgue de “O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas” com a mutante de “A Experiência”. Apesar da baboseira patriótica típica de filmes de ação, principalmente os de Michael Bay, o diretor prova que sabe dirigir cenas do gênero, sempre grandiosas, com efeitos visuais impecáveis e edição de som envolvente, mas o que dizer da direção de atores? Tudo bem que a capacidade de alguns deles é bem limitada. Megan Fox, por exemplo, o que tem de linda tem de ruim. E como sua beleza estonteante predomina, é explorada até o limite, desde a primeira aparição da personagem, montada em uma moto com um micro short. Já o protagonista Shia LaBeouf não supera expectativas, um pouco prejudicado pelas cenas em que surta com os códigos da All Spark em sua cabeça, mais uma prova do péssimo gosto de Bay, mas pelo menos LaBeouf mostra que manteve o mesmo nível do filme anterior, o que ainda deve dar fôlego para o terceiro filme.

A pretensão de Bay com “Transformers 2” é tanta que ele acredita que consegue fazer comédia, e tenta ser engraçado em alguns momentos, principalmente aqueles protagonizados pela mãe de Sam. No entanto, a tentativa acaba tornando o longa ainda mais cansativo. O único que ainda convence é o agente Simmons, vivido pelo veterano John Turturro, que tem o timing perfeito de comédia. A mesma pretensão é passada aos militares do filme. Afinal, por que mandar os humanos enfrentarem os Decepticons na frente, se eles não sabem que não têm a menor chance? Ou será que eles acham que podem vencer robôs de dez metros de altura com fuzis e metralhadoras?

O jeito agora é esperar que o terceiro seja, pelo menos, tão divertido quanto o original, que se tornou mais interessante depois desse fiasco, pois tanta pretensão e previsibilidade fizeram de “Transformers 2” apenas uma longa espera para um final entediosamente inevitável.


FICHA TÉCNICA

Título: "Transformers: A Vingança dos Derrotados"
Título original: Transformers: Revenge of the Fallen
País: EUA
Ano: 2009
Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger, Roberto Orci e Alex Kurtzman
Elenco principal: Shia LaBeouf, Megan Fox, Josh Duhamel, Tyrese Gibson, John Turturro, Matthew Marsden, Glenn Morshower, Ramon Rodriguez.
Duração: 148 min.
Gênero: Ação
Sinopse: Sam (Shia LaBeouf) e Mikaela (Megan Fox) voltam a ficar na mira dos Decepticons, que desta vez precisam do rapaz vivo, já que ele detém conhecimentos valiosos sobre as origens dos Transformers e como aconteceu a história dos robôs neste planeta. Em paralelo, os militares americanos e uma força internacional unem-se aos bons Autobots para enfrentar os vilões.
Estreia: 24 de junho de 2009

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