Foi dada a largada. Com a estréia de “O curioso caso de Benjamin Button”, de David Fincher (“Clube da Luta”, “O Quarto do Pânico”), filmes com grandes chances de conquistar indicações ao Oscar começam a invadir as salas brasileiras. Oficialmente, os indicados saem no próximo dia 22, mas a temporada de prêmios que antecede aos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas já antecipa as figuras com presença garantida na grande noite do dia 22 de fevereiro. E o filme de Fincher com certeza estará lá.
A Academia Britânica de Cinema concedeu simplesmente 11 indicações ao seu prêmio anual, o Bafta Awards, para “Benjamin Button”. Se o Oscar seguir a mesma tendência, o filme pode até chegar a ser um novo recordista. Pode, mas não deve. Baseado em um conto de F. Scott Fitzgerald, que por sua vez foi inspirado em uma frase do escritor Mark Twain (“A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”), o filme não consegue ir além de um bom argumento. A jornada fantástica começa com o nascimento de um bebê, no final da Primeira Guerra Mundial, que fisicamente se parece com uma pessoa idosa, e que por isso, é abandonado pelo pai. Coincidência ou não, ele vai parar nas mãos de Queenie (vivida de forma competente pela atriz Taraji P. Henson, de “Ritmo de um sonho”), responsável por um lar de idosos. E lá o bebê Benjamin passa a morar, até que, com o passar dos anos, sua saúde vai ficando mais forte e ele mais jovem, o suficiente para sair de casa em busca de novos horizontes.
O trajetória de Benjamin Button remete a saga de “Forrest Gump – O contador de histórias”, de Robert Zemeckis, mas sem a simpatia do personagem vivido por Tom Hanks. Com pitadas de humor, o texto, quando não traz obviedades como “Button, você é especial” ou uma passagem pela 2ª Guerra Mundial, força momentos poéticos e relações sem sentido. Benjamin vive experiências gratuitas (como o “exorcismo” na Igreja, que nem ao menos serve como pretexto para mostrar as tentativas de curá-lo, pois elas se esgotam ali mesmo), aleatórias e conhece pessoas que pouca diferença fazem em sua vida ou aprendizado (como o capitão do barco em que se alista, que lembra e muito o Tenente Dan Taylor, vivido por Gary Sinise no filme de Zemeckis). A exceção é Daisy, vivida brilhantemente, dos 26 aos 86 anos, por Cate Blanchett, por quem Button nutre um amor genuíno. Com mais de 2h e 30 minutos de duração, fica a sensação de que estamos diante de um roteiro que só existe para acompanharmos o processo de envelhecimento reverso do personagem-título.
Ao utilizar um narrador como recurso para costurar as aventuras de Button, o tiro sai pela culatra. É um problema grave (e bem comum) quando o narrador diz aquilo que a imagem traduz de maneira mais rápida e eficaz. Soa estúpido e atrasado quando Benjamin, em primeira pessoa, diz que enquanto rejuvenescia, os outros envelheciam. Enquanto o roteiro cai em suas próprias armadilhas, uma imagem bastante interessante é pouco explorada: a do relógio que corre pra trás. Construído por um relojoeiro famoso que perdeu o filho na guerra, o relógio da estação de trem corre no mesmo sentido do tempo de Button. Há uma cena muito bonita, editada em rewind, para mostrar que se o tempo voltasse, o filho do relojoeiro estaria vivo, mas nada além disso. No final, o relógio, já desativado, é levado pelas águas do Katrina (existe um núcleo paralelo, onde encontramos Daisy em seu leito de morte ouvindo a filha lhe contar a história de Benjamin, que se encontra às vésperas da tragédia em Nova Orleans em 2005), uma tentativa frustrada de fazer poesia com a imagem.
O que nos resta é o trabalho dos atores. Cate Blanchett, na verdade, é a carta na manga do filme, além é claro, dos ótimos trabalhos de maquiagem e efeitos especiais. Durante o filme, Button fica cerca de 20 anos longe de Daisy, e quando eles se reencontram na academia de balé, o olhar da atriz deixa escapar que as experiências vividas lhe trouxeram maturidade, mas também um peso nas costas. Brad Pitt, que vive Benjamin Button, também faz um trabalho digno, principalmente durante a “infância”. O que vemos é um velho, enrugado, encurvado, enfermo, mas guiado pela mente de uma criança, subjugado pela experiências dos mais “velhos” com quem convive. Esse contraste, entre aparência e conteúdo, Pitt desenvolve muito bem na personagem. Fotografia e trilha sonora também se destacam no longa. Cenas como a que vemos Daisy dançando para Benjamin à luz do luar tentam dar o tom lírico desejado à narrativa. Mas o roteiro raso fazem de “O curioso caso de Benjamin Button” uma grande falcatrua.
P.S.: Ao fazer a ficha técnica do filme, que você vê abaixo, li que Eric Roth, roteirista do filme, também escreveu “Forrest Gump”.
FICHA TÉCNICA
Título: "O curioso caso de Benjamin Button"
Título original: The curious case of Benjamin Button
País: EUA
Ano: 2008
Direção: David Fincher
Roteiro: Eric Roth e Robin Swicord, baseado em conto de F. Scott Fitzgerald
Elenco principal: Brad Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton, Taraji P. Henson, Jason Flemyng
Duração: 166 min.
Gênero: Drama
Sinopse: Um homem de 50 anos, interpretado por Brad Pitt, começa a rejuvenescer inexplicavelmente. E ao se apaixonar por uma mulher de 30 anos (Cate Blanchett), se encontra em uma situação complicada, não sabe como manterá o relacionamento se ficar cada vez mais jovem, enquanto ela fica mais velha.
Estréia: 16 de janeiro de 2009.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
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Uma atuação calcada qse q 100% em recursos digitais, não deveria nem ser levada em consideração em qualquer premiação q se preze.
ResponderExcluirComo estamos falando de Oscar, não é de se espantar que eles não resistiram à tentação de indicar seu casal estrelado mor nas categorias de ator e atriz no mesmo ano. Mesmo que por trabalhos q dá pra caracterizar como, no máximo, corretos.
Além das claras falhas de roteiro e da piequice insistente em exaltar a 2ª guerra mundial, eu não seria tão cruel com esse filme, rs. Longe de merecer o Oscar, mas confesso que ele conquistou a minha simpatia. Assim como outros dois títulos q em certa medida se assemelham ao "Curioso Caso...": "Forrest Gump", como vc mesmo citou, e "A Casa dos Espíritos" (pode parecer que não tem nada a ver, mais achei certos aspectos semelhantes na forma de narrar as duas adaptações literárias, inclusive com a casa como personagem marcando a passagem de tempo, com o retorno de tempos em tempos do(s) personagem(ns) principal(is).
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