segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ode à mediocridade

Depois de "Onde os fracos não têm vez", os irmãos Ethan e Joel Coen, resolveram abordar a mediocridade humana sob uma perspectiva bem interesante. Resultado: em "Queime depois de ler", temos um divertido filme repleto de personagens perdedores, ou como chamam lá fora, "losers".

Um funcionário de baixo escalão do governo que acha que está sendo espionado, um instrutor afetado de uma academia de ginástica, um ex-membro da CIA que decide escrever um livro de memórias e sua esposa, uma médica sem expressão que se veste como executiva, e uma quarentona que sonha em fazer quatro procedimentos de cirurgias plásticas e combina encontros amorosos pela internet (que é ainda objeto de desejo de seu chefe), todos vividos brilhantemente por um elenco afinadíssimo. Destaque para Brad Pitt (o instrutor afetado) e Frances McDormand (a quarentona), hilários. A mania de grandeza os torna ainda mais patéticos, pois acreditam serem mais importantes do que realmente são, tanto que a situação absurda em que chegam personagens tão medíocres causa o desprezo (e um certo deboche) de outros, como vemos em uma conversa entre figurões da CIA.

O mais legal do roteiro dos irmãos Coen é a maneira como ele conduz as relações entre os envolvidos. A história custa um pouco a deslanchar, o que pode causar um pouco de frustração no espectador, mas depois de aproximadamente 25 minutos, os irmãos Coen nos apresentam o problema: um CD com supostas informações confidenciais da CIA vai parar na mão de dois funcionários de uma academia que acham que podem tirar alguma vantagem disso, sem ter a menor idéia do material que estão de posse. Mas não pense que são 25 minutos de enrolação. É tempo suficiente para que a teia de relações seja destrinchada e você consiga entender porque o CD foi parar ali e porque isso pode ser um problema.

A partir daí, o filme nos delicia com momentos trágicos...se não fossem cômicos! A cena em que Chad (Brad Pitt) e Linda (McDormand) tentam negociar com o dono do CD alguma recompensa por terem encontrado o material é uma das melhores do filme, e onde podemos ver o talento dos Coen tanto na direção quanto no roteiro. Se o espectador ainda tinha alguma dúvida se o filme ia ser bom, a revoravolta no desenrolar dessa conversa acaba com todas elas. Outro ponto alto do filme acontece quando há o encontro de Pitt e Clooney, que também protagoniza um dos momentos mais hilariantes do longa, ao revelar o que estava construindo no porão de casa. Mas não pense que é uma comédia gratuita. Quem conhece o trabalho dos diretores em "E aí meu irmão, cadê você?" sabe que a dupla consegue lidar com o riso de forma inteligente e sem exageros. Em "Queime depois de ler", eles comprovam seu talento e mostram porque mereceram o Oscar.


FICHA TÉCNICA

Título: "Queime depois de ler"
Título original: Burn after reading
País: EUA
Ano: 2008
Direção: Ethan Coen & Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen & Joel Coen
Elenco principal: Frances McDormand, Brad Pitt, George Clooney, Tilda Swinton, John Malkovich, J.K. Simmons, Richard Jenkins
Duração: 95 min.
Gênero: Comédia
Sinopse: Osbourne Cox (John Malkovich) é um agente da CIA expulso da agência que escreve suas memórias contendo detalhes reveladores. Mas o CD no qual o texto está escrito cai acidentalmente nas mãos de dois confusos e atrapalhados funcionários de uma academia de ginástica (Frances McDormand e Brad Pitt), que tentam faturar uma grana em cima das informações que conseguem.
Estréia: 28 de novembro de 2008

2 comentários:

  1. Os 25 minutos iniciais não são enrolação não, talvez só um pouquinho mais longos do que tio Sid (é com i mesmo q se escreve?) Field recomendaria, mas o suficiente para saber bem o terreno que estávamos pisando. Quanto aos personagens, acho que o excesso de pretensão é o pecado que os une, talvez esteja aí o ponto de relação entre todos eles. Mas o mais surreal pra mim foi a cena do armário. Demorei uns bos 2 minutos pra sacar que não se tratava de um fluxo de pensamento do personagem do Pitt e sim, uma ação no presente, ridiculamente irreversível, por sinal, rsrs...Só perde para o "brinquedinho" do porão!

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  2. Bem, só agora que eu vi o filme eu vou comentar...

    Lógico, a grande surpresa do filme foi a invenção do George Clooney... hahahahahahahaha...

    Enfim, o que me chamou a atenção não foi só o fracasso de todos os personagens centrais em seus empregos, mas também em suas vidas pessoais. Todos ali passam por alguma problema amoroso: todos são completamente incapazes em qualquer parte de suas vidas.

    Mas Queime... me lembrou muito outro filme dos Coen, Fargo. Também uma história como uma chantagem pode acabar muito mal, com uma mistura de tragédia e comédia.

    Abraços.

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