terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Duelo de titãs

Com cinco indicações ao Oscar, sendo quatro delas para atores, “Dúvida”, do desconhecido John Patrick Shanley, se desenvolve a partir de, justamente, uma grande desconfiança: teria o padre Flynn (vivido pelo premiado Philip Seymour Hoffman) aliciado ou não o menino Donald Miller? A “dúvida” do título é despertada pela inocente Irmã James (personagem da ótima Amy Adams, uma das promessas surgida nesse século), que observa um comportamento estranho em um de seus alunos, o jovem Miller, também um dos coroinhas da paróquia, depois que ele retorna de uma conversa com o padre. James, mesmo sem nenhuma prova concreta, imediatamente comunica a suspeita para irmã Aloysius (a sempre perfeita Meryl Streep), diretora da instituição.

O duelo entre padre Flynn e a irmã Aloysius é o fio condutor da história, despertado pela tal dúvida do filme. Enquanto a irmã dirigia com pulso firme a escola católica, tentando manter a ordem e a disciplina a qualquer custo, mas o padre representava a modernização da Igreja, a mudança, que não era bem recebida pela diretora. É interessante observar como os dois chegam a disputar a cadeira da sala da direção. Aloysius não aceitava estar a um nível hierárquico abaixo do padre e a ele ter que responder. Além disso, Flynn era invejado pela irmã Aloysius, pois enquanto ele mantinha missas lotadas, fiéis atentos e alunos que o admiravam, graças ao carisma e compaixão, ela era temida por todos. E isso, no fundo, a incomodava. A suspeita levantada foi, na verdade, o pretexto de que Aloysius precisava para inciar a perseguição ao sacerdote, até fazê-lo desistir de suas obrigações naquela paróquia.
Com um elenco marcante, encabeçado por Meryl Streep, “Dúvida” é um filme poderoso que se sustenta pela força das atuações, assim como “Closer – Perto Demais”, de Mike Nichols, em 2004. Fato raro é ver um elenco tão afiado. Até mesmo a coadjuvante Viola Davis, que interpreta a mãe de Miller, em apenas uma cena, mostra do que o elenco, principal trunfo do longa, é capaz de fazer com um texto não menos soberbo.

Como na escola literária barroca, o roteiro abusa das relações paradoxais entre verdade e mentira, dúvida e certeza, bem e mal, e somos levados a acreditar em (pseudo) fatos e argumentos que ora nos fazem apostar na inocência do padre e ora nos fazem duvidar dela. Não espere muitas respostas no longa, que explora as possibilidades para uma resposta negativa ou afirmativa para a principal questão. Os diálogos, apesar de longos, não cansam, graças à riqueza do texto - destacaria a conversa particular entre o padre Flynn e a irmã Aloysius (Streep), que assume sem pudores algumas de suas atitudes em busca da “verdade” - e às interpretações irretocáveis. Alguns dos poucos problemas do filme talvez seja um certo maniqueísmo na construção das personagens principais e a direção imatura de Shanley que força planos inusitados que chegam a cansar um pouco, mas não comprometem a qualidade do filme.


FICHA TÉCNICA

Título: "Dúvida”
Título original: Doubt
País: EUA
Ano: 2008
Direção: John Patrick Shanley
Roteiro: John Patrick Shanley, baseado em peça de sua própria autoria
Elenco principal: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis.
Duração: 119 min.
Gênero: Drama
Sinopse: A história é ambientada no ano de 1964, em uma escola católica no Bronx (Nova York), onde a diretora (Meryl Streep) é uma dura freira que acusa publicamente de pedofilia um padre popular (Philip Seymour Hoffman). O filme aborda as questões de religião, autoridade e moralidade.
Estréia: 06 de fevereiro de 2009

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