segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Rua de ilusões

Repetindo a parceria precoce em “Titanic”, Leonardo DiCaprio e Kate Winslet estrelam o drama “Foi Apenas um Sonho”. Apesar de hoje serem equivalentes em maturidade física e artística, o que não acontecia no filme de 12 anos atrás, DiCaprio e Winslet parecem não estar à vontade com a nova oportunidade de trabalharem juntos. Com atuações superficias, exageram nos gritos e nas gesticulações, como vemos logo na segunda sequencia do filme, em que Frank tenta consolar April pelo fracasso como atriz e os dois acabam brigando à beira da estrada.

O diretor Sam Mendes repete a temática de seu maior sucesso, “Beleza Americana”: o american way of life dos subúrbios norte-americanos. Só que dessa vez, Mendes é menos sutil, e extravasa a revolta com o tédio e a melancolia dos condomínios e casas pré-moldadas típicos. Em “Revolutionary Road” (no original), os protagonistas assumem que a vida nos subúrbios é uma vida pela metade, em que as pessoas se acomodam naquele conforto e ilusão de segurança com medo de enfrentar novas experiências e assim, quem sabe, ser feliz de verdade.

Ao perceber que levava uma vida medíocre, April Wheeler, o papel que rendeu o Globo de Ouro à Kate Winslet, propõe ao marido que a família se mude para Paris. Frank, o marido vivido por DiCaprio, apesar de um pouco hesitante, aceita a proposta. A decisão é motivo de deboche daqueles com quem o casal convive. Na verdade, estão todos tão dependentes daquela realidade que não acreditam ser possível passar por uma mudança tão radical. O casal de amigos dos Wheeler é exemplo disso. Muito mais cúmplices um do outro que os protagonistas - o casal vizinho se comunicava só pelo olhar - acreditava que aquela realidade, por pior que fosse, era a melhor alternativa. E o choro da mulher logo depois de ouvir que April e Frank iriam para Paris demonstra que a vontade de mudar já existiu, mas foi sempre preterida.

O roteiro é promissor, porém, não deslancha. Enquanto a emotiva April não pertencia àquele lugar e, impossibilitada de fugir daquilo, só tinha mesmo o destino que lhe aguarda no final, Frank, que também procurava meios de fugir da realidade (com outra mulher, por exemplo), era mais racional. Ao perceber que a ideia de se mudar para Paris era menos tentadora do que ser promovido no trabalho, desiste e provoca um colapso na mulher. Porém, o roteiro frágil e pouco dinâmico não desenvolve os motivos da infelicidade do casal naquele lugar. Só conseguimos entender quando o lunático vivido por Michael Shannon - que rouba as duas cenas em que aparece - coloca todos os pingos nos is.

A trilha sonora de Thomas Newman, que já havia trabalhado com Mendes em “Beleza Americana”, tem o talento de compor trilhas que permanecem na mente mesmo após a projeção. Assim como no longa de 2000, aqui, Newman nos proporciona uma trilha que, apesar de pouco criativa, dá o tom certo à narrativa. Falta de criatividade também marca a direção de Mendes, que opta por planos muitas vezes tão óbvios que irritam. Fica a sensação de que, assim como o casal Wheeler, o filme ainda está tentando se encontrar.

FICHA TÉCNICA

Título: "Foi apenas um sonho”
Título original: Revolutionary Road
País: EUA/Austrália
Ano: 2008
Direção: Sam Mendes
Roteiro: Justin Haythe, baseado em livro de Richard Yates
Elenco principal: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Kathy Bates, Michael Shannon.
Duração: 119 min.
Gênero: Drama
Sinopse: April (Kate Winslet) e Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) são um casal jovem que vive no subúrbio de Connecticut com seus dois filhos na década de 1950. A máscara da auto-segurança esconde a enorme frustração que sentem por não serem completos em seu relacionamento ou na carreira. Determinados a conhecerem a si mesmos, eles decidem se mudar para a França. Mas o relacionamento começa a corroer em um ciclo infinito de brigas, ciúmes e recriminações, e a viagem e seus sonhos correm grandes riscos de acabar.
Estréia: 30 de janeiro de 2009.

3 comentários:

  1. Ainda não vi o filme, mas tudo me parece muito tedioso.Já fui contaminada pela crise finaceira internacional e não consigo acreditar na potencialidade de um roteiro que fale das conseqüências do velho "american way of life" sem levar em conta a conjuntura atual. Hoje, não vejo uma classe média alta (como é o caso dos protagonistas do filme de Sam Mendes), de um semi-declinado império americano, imune aos males globais, parecendo sucumbir somente aos seus veneninhos internos.Isso soa tão demodé quanto a palavra demodé.
    No entanto, só por ser cinema muitas coisas podem ser levadas em consideração, assim o filme vale ser visto . O valor aqui é pela dupla de protagonistas. Deve valer o ingresso, ver juntos, anos depois do popularesco e lacrimoso Titanic, Kate Winslet e Leonardo DiCaprio num filme de diretor e não de estúdio. Pois são atores que cresceram e apareceram.

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  2. O filme é arrastado, devagar, lento. Como a vida no suburbio, as coisas simplesmente nao acontecem de uma vez...

    Não achei a Kate Winslet tão bem assim pra ser multipremiada. Ela já fez papéis melhores. O papel dela é muito manjado: mulher-fracassada-na-profissao-que-odeia-ser-dona-de-casa-mas-nao-tem-outro-jeito. Típico demais.

    Leonardo di Caprio também faz um tipo comum. Infiel, conservador, explosivo, rude. Ele até gosta da esposa, mas é completamente incapaz de se comunicar com ela (logo na primeira cena do filme isso fica claro).

    Os vizinhos e amigos parecem que sairam da série A Feiticeira. Só o maluco foi realmente bom, interessante, original. Tudo é meio óbvio no filme... não sei se a intenção do Sam Mendes era essa.

    Acho que os personagens poderiam ter reações menos esperadas. Um filme bom deve surpreender. E, como você mesmo disse, o final de Kate Winslet não tem nada de original ou inspirado.

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