segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Saudosismo sem sucesso

Um custo total de 130 milhões de dólares, quatorze meses de produção, quase três horas de duração fizeram de “Austrália” o filme mais esperado da história do país-título e a maior produção feita na região. Mas a principal aposta da Twentieth Century Fox para o Oscar 2009 acabou ficando apenas com a singela indicação de melhor figurino e faturou pouco mais de 14 milhões de 800 mil no fim de semana de estreia, e por isso é considerado mais um fracasso para o currículo de Nicole Kidman, que desde “As horas” não consegue emplacar nenhum sucesso, nem de crítica ou muito menos de público. “Austrália” conta a historia da aristocrata inglesa Lady Sarah Ashley, vivida por Kidman, que, no início da Segunda Guerra Mundial, é obrigada a ir até a fazenda da família na Austrália para vender o gado. Lá conhece um vaqueiro, o troglodita Hugh Jackman, por quem acaba se apaixonando. Tudo isso vemos sob o ponto de vista do menino aborígene Nullah, vivido pelo novato Brandon Walters.

Mas parece que só valeu mesmo a intenção. O grande pecado do longa de Baz Luhrmann foi tentar ser um novo clássico. A estrutura épica da produção quer fazer do filme um marco, mas tamanha pretensão, que mira em “E o vento levou” e atinge de raspão em “Era uma vez no Oeste” e “A cor púrpura”, acaba acertando no fraco “Pearl Harbor”. A irregularidade da narrativa proporciona momentos interessantes – como o toque de humor na cena em que Sarah conhece o Capataz ou a única cena de canguru – e sensíveis – a história do menino aborígene e seu avô profeta, por exemplo – mas não chega lá. Luhrmann até tenta dar um toque pessoal à estrutura do filme, o que nos faz pensar por um momento que o filme vai deslanchar, mas a tentativa não ultrapassa os primeiros dez minutos, onde vemos alguns truques de edição que não foram suficientes para tornar “Austrália” um filme moderno.

A opção pela linguagem do clássico-narrativo faria do filme um sucesso há 20 ou 25 anos, mas hoje técnicas já superadas como closes em momentos de grande sentimentalismo, trilha sonora com notas altas para criar um clímax nas cenas importantes, um certo maniqueísmo na construção dos personagens (bons e maus bem definidos), e edição em câmera lenta das cenas mais tensas já não atraem a “geração videoclipe” que o próprio Baz soube cativar – e eu diria, ironicamente, ser ele um de seus maiores ícones – em “Moulin Rouge – Amor em vermelho” e “Romeu+Julieta”.

Os personagens são simpáticos, mas as atuações, limitadas. O grande destaque é o menino Nullah, uma graça. É ao mesmo tempo forte e delicado, assim como Lady Ashley, mas que sofre com a interpretação nada criativa de Nicole Kidman. Já o Capataz é a clássica figura do galã, o machão bom de briga, que encara o mundo de frente e nasceu para viver sozinho, que só se apaixonaria por alguém que lhe fosse semelhante. Então conhece Lady Sarah Ashley, uma mulher que, apesar de sua aparente fragilidade, tem personalidade forte, que o faz abrir mão de seus conceitos. Uma tentativa de fazer de Nicole uma nova Vivian Leigh, que viveu Scarlett O'Hara em “E o vento levou”. Com muitos takes abertos de belíssimas paisagens do outback australiano, o filme, no fim, fica apenas como uma uma dupla homenagem: ao país de origem de Baz Luhrmann e a um estilo há muito tempo já enterrado.


FICHA TÉCNICA

Título: "Austrália”
Título original: Australia
País: EUA/Austrália
Ano: 2008
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann & Ronald Harwood
Elenco principal: Hugh Jackman, Nicole Kidman, David Wenham, Brendan Walters.
Duração: 174 min.
Gênero: Romance
Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, uma aristocrata inglesa (Nicole Kidman) herda uma fazenda de gado na Austrália. Quando os barões do gado tramam conquistar suas terras, ela relutantemente une forças com um homem áspero (Hugh Jackman) para guiar suas duas mil cabeças de gado através de milhares de quilômetros das terras do país, e enfrenta um bombardeio na cidade de Darwin pelas tropas japonesas, que haviam atacado Pearl Harbor alguns meses antes.
Estréia: 23 de janeiro de 2009.

2 comentários:

  1. Que legal Matheus! Você tem um bom texto! Parabéns! Gostei do seu blog. Continue assim! E boa sorte! Estarei torcendo por você. Quem sabe no futuro você não vira um bonequinho?? Beijos

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  2. Matheus, seus textos estão prontos para serem publicados em veículos de massa...hora de colocar aquele seus contatos com a turma do bonequinho para funcionar!
    Seus resumos são tão bem escritos que dão até vontade de assistir a esses filmes.
    Divulgue o blog, você irá longe!
    Bjs!

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